Quem cria ou propaga notícias
falsas na internet pode não ter ideia do impacto e consequência disso. E quando
se trata de doenças, a situação fica muito mais séria e delicada. Por isso é
tão importante falar sobre fake news e câncer. Mais do que falar, é preciso
“declarar guerra” contra essa prática.
Primeiro foi o Ministério da
Saúde e o INCA, que lançaram a campanha pelo Dia Mundial de Combate ao Câncer
falando sobre as fake news. Agora é a vez dos blogueiros e influenciadores
digitais, unidos à ONG Instituto Oncoguia, que se mobilizam para combater as
informações falsas disseminadas em rede. Para garantir que essa comunicação
sobre o câncer na Internet seja segura, a ideia é envolvê-los em ações que
promovam o alinhamento científico das informações difundidas para milhares de
seguidores.
“Exatamente como o câncer, que
não escolhe idade, sexo ou condição social, notícias falsas podem atingir
qualquer pessoa. Até poucos anos atrás, o diagnóstico de câncer era sinônimo de
muito sofrimento e, para muita gente, de morte. Ainda hoje, mesmo com todo o
avanço nos tratamentos, com novos medicamentos, a doença ainda causa medo. E
isso, muitas vezes, fragiliza as pessoas”, avalia a oncologista clínica Paula
Sampaio.
Rivonilda Graim, psicóloga do
Centro de Tratamento Oncológico, avalia que esse é o terreno fértil para as
notícias falsas e a possibilidade de prejuízo para a saúde das pessoas aumenta.
“Muitas vezes, pacientes e familiares estão muito ansiosos e aflitos - o que é
normal – e acabam buscando soluções alternativas, sem ouvir os médicos. Hoje,
com a internet, é muito fácil ter acesso a milhares de informações, que podem
confundir as pessoas”, diz Rivonilda.
A oncologista clínica Paula
Sampaio concorda com o risco das fake news prejudicarem o tratamento. O caso
recente, da chamada pílula do câncer, é um exemplo. Muitos pacientes chegaram a
abandonar o tratamento e as pesquisas comprovaram a ineficácia da
fosfoetanolamina.
“Os boatos se espalham em torno
de uma esperança de uma grande mudança, mas não há uma mudança que não venha
por meio da pesquisa clínica e científica”, diz a médica.
Experiência própria - A
assistente social Sinara Moura, de 48 anos, sabe como pode ser perigoso se
deixar levar pelas fake News. Ela aprendeu com os próprios erros. Em setembro
de 2015, Sinara descobriu um câncer no intestino. Fez cirurgia e quimioterapia,
mas seis meses depois descobriu outro tumor, dessa vez no ovário direito, e
precisou operar novamente e repetir o tratamento quimioterápico. Mesmo assim, em
agosto de 2017, ela sofreu uma reincidência do câncer de intestino e outro
tumor no reto. “Foi um período difícil, precisei fazer uma colostomia e usar
uma bolsa, não aceitava isso, tinha vergonha”, lembra Sinara. “Foi então que me
deixei levar, ouvia muitos ‘conselhos’ de amigos e passei a pesquisar na
internet coisas para ajudar no tratamento. O ‘Dr. Google’ era meu amigo”, conta
ela.
Por conta própria, Sinara cortou
açúcar e carboidratos da alimentação. Nem mesmo os alertas da família a faziam
parar com a dieta. “Fiquei muito debilitada, tinha desmaios constantes, não
saía da cama de tanta fraqueza e tive uma perda de peso acentuada. Foram quase
10 quilos perdidos em um mês, cheguei a pesar 44 quilos, o limite mínimo de
peso para fazer quimioterapia. Por muito pouco não inviabilizei meu tratamento
contra o câncer. Os médicos me diziam que a quimioterapia estava perdendo para
a desidratação que eu mesma causei”, lembra a assistente social.
O susto fez com que ela voltasse
a ouvir as orientações dos médicos e nutricionistas. “Agora estou recuperando o
peso e quase concluindo o tratamento contra o câncer. Me arrependo do que fiz,
agora sei o quanto é importante seguir as orientações da equipe profissional
que cuida de mim”, avalia.
Fake News - É um termo típico
dessa era digital, mas informação falsa não é novidade. Além dos boatos nas
redes sociais, ouvimos, com facilidade, por toda parte, conselhos e orientações
sem fundamento científico. Informações propagados em diversos ambientes e que
fazem parte até da cultura popular. “Na nossa região, por exemplo,
principalmente no interior, ainda é muito forte a cultura das garrafadas, dos chazinhos”,
lembra a psicóloga Rivonilda Graim.
Paula Sampaio complementa:
“Informação correta também é prevenção. Desconfie sempre de informações sem
fontes seguras. Eu sei que checar a veracidade da informação é tarefa que
demanda boa vontade e paciência, mas o Facebook e o Google, por exemplo, têm
ferramentas para combater as fake news. E, lembre-se: no ambiente digital, onde
tudo se propaga muito rapidamente e ganha enorme dimensão, o poder está nas
mãos do usuário. As fake news só têm poder se forem compartilhadas”, conclui
Paula.
Cuidados importantes para fugir
das fake news:
· Não divulgar conteúdo de origem
sensacionalista
· Não dar orientações que cabem a
profissionais de saúde
· Priorizar a informação baseada em
evidências científicas