É de se esperar um certo grau de
desespero e preocupação toda vez que um homem muito jovem descobre que vai ser
pai. Mas com Sebastião de Oliveira foi tudo diferente. “Encarei com muita
tranquilidade, não senti medo nenhum. Acho que era meio destrambelhado quando
era jovem”, revela com a felicidade de quem nasceu para ser o pai e levou a
missão ao extremo: depois do primogênito vieram mais oito filhos. “Onde come
um, come dois, três, quatro e assim vai”, conta ele, que trabalha como
supervisor de produção na Imerys, mineradora que atua com caulim no Pará.
Sebastião é símbolo de uma realidade
consolidada ao longo dos anos no Brasil: a Pesquisa Nacional de Amostra por
Domicílio de 2015 mostra que pelo menos 400 mil brasileiros entre 15 e 17 anos
tornaram-se pais. O exemplo de Sebastião atesta que pouca idade nem sempre
significa pouca responsabilidade. “Eu já me sustentava desde os 12 anos,
trabalhando em roça. Nasci em Castanhal e sempre capinei em um pimental de
japoneses”, fala com orgulho ao lembrar que deu oportunidade para que todos os
filhos estudassem. “Quando comecei a trabalhar na Imerys com meus irmãos, nossa
primeira atitude foi levantar uma escola para os filhos, que a empresa nos
ajudou a fazer”. Sebastião e seus quatros irmãos pagaram professores por dois
anos para garantir o acesso da criançada ao ensino – no terceiro ano, a escola
foi registrada oficialmente pelo município de Ipixuna do Pará, onde ele reside,
e os professores foram contratados. “Foi um desafio, mas fico feliz de lembrar
que eles foram criados com muito sacrifício, porém com dignidade”.
Daí para frente veio só a colheita de
frutos: tem filho prestes a se formar em Técnica Agrícola, filha que conquistou
o quinto lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na cidade e até filha que
foi estagiária na mesma empresa que Sebastião. “É um sentimento difícil de
entender, fica entre o orgulho e a vontade de passar o exemplo de superação.
Ser pai é ser amigo, a gente tem que conquistar o filho pelo amor e não pelo
temor. Eles me respeitam porque gostam de mim e não por terem medo. Isso é
coisa do passado. Não tem isso de saber criar filho, é claro, mas a gente
cultivar o respeito na família é sempre importante”. E se coração de pai sempre
cabe mais um, Sebastião agora aproveita a pós-paternidade: são 14 netos e três
bisnetos. “Fico aqui todo besta com eles brincando, correndo pela casa, me
divirto. Tudo o que não deu para fazer com os meus filhos estou fazendo com
eles. É muito bom”, celebra
Viver em um tempo de homens possíveis
também significa viver em um tempo de pais possíveis. Esse processo contempla
desde a importância de saber dividir as tarefas e claro, administrar o tempo
para investi-lo em momentos de qualidade com os filhos. O operador de produção
Lauro Martins tem dois modus operandis: ou está trabalhando na Alubar, líder na
América Latina na fabricação de cabos elétricos de alumínio e produtora de
condutores elétricos de cobre para média e baixa tensão, ou está em casa,
cuidando dos seus cinco filhos. “A mais nova tem quatro meses, chegou agora. A
gente se vira, né? Final de semana é integralmente com eles, para brincar,
ajudar na tarefa do colégio, ver TV, ensinar o que eu sei. Eu e minha esposa
ficamos nos apoiando”, conta ele que crê que transmitir os ideais de respeito e
educação para os seus descendentes é fundamental.
Apesar da correria no cotidiano, ele
encontra alívio ao revezar as atividades com a esposa e ao enxergar que seus
filhos compreendem que isso são coisas da vida. “Mesmo novinhos, eles entendem.
Sabem que faz parte. A minha filha de seis anos, Thayla, é doida para vir aqui
conhecer onde eu trabalho, é curiosa. Um dia ainda vou trazer ela aqui para ela
ver como meu dia a dia profissional é legal”, afirma.