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Objeto é utilizado na produção de farinha de mandioca (Foto: Felipe Pires) |
A mandioca é uma das fontes de alimento
mais antigas cultivadas na América do Sul. Variedade comum na região amazônica,
a mandioca brava (Manihot esculenta ranz) é venenosa e passou por um processo
de domesticação pelas populações indígenas até se tornar própria para o
consumo. Para isso, foram criados diversos artefatos – entre eles, o tipiti,
utilizado até hoje na secagem da massa de mandioca para a produção de farinha
pelos povos tradicionais da Amazônia.
O Dicionário do Artesanato Indígena
classifica o tipiti como um cesto de trançado que pode ter diferentes formas e
tamanhos. De confecção engenhosa, o artefato serve para extrair o líquido da
mandioca.
Como funciona
O tipiti é um cilindro de
aproximadamente dois metros de comprimento cujas extremidades são reforçadas.
Em um dos lados é colocada a massa de mandioca, prensada pelo objeto para
extração do líquido – no caso da mandioca brava, um caldo amarelado e letal
para o ser humano.
Esse líquido, entretanto, muitas vezes é
aproveitado. Após a extração, é recolhido e fervido para elaboração do tucupi,
caldo utilizado em pratos típicos da Amazônica, como o tacacá.
A massa seca resultado do processo de
extração é, então, transformada em farinha.
Pesquisa do PIBIC mapeia uso do tipiti
na Amazônia
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Confecção do trançado é transmitida por gerações (Foto: Felipe Pires) |
Com o objetivo de identificar a
continuidade do uso dessa tecnologia na produção de farinha de mandioca na
região do Médio Solimões, na Amazônia Central, o bolsista do Programa de
Iniciação Científica (PIBIC) do Instituto Mamirauá Fabiano Mendes está
realizando o mapeamento das comunidades que fazem uso do artefato na Floresta
Nacional de Tefé (FLONA), no Amazonas, e também das novas tecnologias
utilizadas como substitutas ao tipiti.
“Essa pesquisa irá fazer um levantamento
etnográfico da produção do tipiti para entendermos diversos aspectos, como a
matéria prima é confeccionada, se é comercializado e qual o valor”, explica
Felipe Pires, técnico do Programa Qualidade de Vida (PQV) e orientador do
projeto.
A fonte entrevistada pelo bolsista, dona
Irene, da comunidade São Francisco do Bauana, relatou que fabrica o artefato
desde os 12 anos de idade. Aprendeu observando a avó.
O processo, explica dona Irene, tem três
etapas. Primeiro, é necessário escolher a matéria prima. Na comunidade da
artesã, o cipó arumã (Ischnosiphon sp) e a palmeira jacitara (Desmoncus
polyacanthos) são utilizados para o trançado. A diferença entre as duas fibras
é que o cipó arumã seca a massa mais rapidamente, mas dura menos.
Nesta etapa, constata a pesquisa, Irene
conta com a colaboração dos filhos, marido e comadres. “[..] para poder tirar os cipós é preciso ter
cuidado porque neles há espinhos, tanto nas talas verdes quanto nas talas
maduras”, diz. Após a retirada do cipó, acontece a limpeza e o teçume das
telas.
A comunitária afirma que 16 toras (o
equivalente a cerca de 65 talas) de cipós é o necessário para fazer um tipiti
de dois metros, considerado o tamanho ideal.
Manutenção da cultura material
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Moqueca Amazônica acompanhada de Arroz de Brócolis e Farofa Panko, prato de Marcelo Barcellos (Foto: Bel Corção) |
Os trançados indígenas têm usos diversos
na vida social das populações. As estruturas básicas, entretanto, exigem
técnica com o uso das mãos, coordenação motora e imaginação do artesão.
“Os tipitis recebem denominações
específicas para cada tipo de trama empregada. No caso desta pesquisa, foi
possível elencar três tipos: teçume caminho de bicho; teçume boroari; teçume
mata-mata”, relata o bolsista no Relatório Parcial da pesquisa intitulada “Tipiti:
uma tecnologia secular dos agricultores da Amazônia”.
A pesquisa também investiga o a
substituição do objeto por outras tecnologias, como a prensa. “Uma das ideias
do trabalho é fortalecer a questão da cultura material do tipiti, uma vez que
ele pode vir a ser completamente substituído por outras tecnologias”, afirma
Felipe.
A pesquisa deve ser finalizada em julho,
quando será apresentada no Seminário do Programa Institucional de Iniciação
Científica (PIBIC) do Instituto Mamirauá.
Iniciação Científica no Instituto
Mamirauá
Realizado há 15 anos no Instituto
Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia,
Inovações e Comunicações (MCTIC), o Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica (PIBIC) é um dos primeiros passos de centenas de jovens
amazonenses que desejam ingressar no mundo da ciência.
Desde a criação do programa, o instituto
formou 390 estudantes, dos quais 42% ingressaram em programas de pós-graduação.
Colaboração: Júlia de Freitas