Nem sempre a gente se dá conta disso,
mas o fato é que a vida é uma contagem regressiva. Desde o nascimento, nosso
relógio biológico não para e é bom lembrar que algumas coisas podem acelerar o
tic tac. Imagine aquele reloginho digital que a gente vê nos filmes, a contagem
regressiva de uma bomba. Agora pense em alguém com um cigarro na boca. À medida
que o cigarro vai queimando, diminuindo de tamanho, a contagem regressiva
acelera.
É exatamente isso que acontece. Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), as três principais causas de mortes
evitáveis no mundo são o tabagismo ativo, o consumo excessivo de álcool e o
tabagismo passivo. Não foi à toa que o 31 de maio foi escolhido como o Dia
Mundial Sem Tabaco. Foi para conscientizar as pessoas sobre os malefícios do
cigarro, um vício que traz muito sofrimento e encurta a vida.
O perigo é silencioso. Cerca de 80% dos
efeitos do tabagismo podem permanecer “invisíveis” por muito tempo e, quando se
revelam, já causaram grandes estragos. Quando um cigarro é aceso, além da
fumaça tragada pelo fumante, 2/3 da fumaça gerada pela queima é lançada no
ambiente. Essa fumaça possui cerca de 4 mil compostos. 200 são tóxicos e 40
cancerígenos. Fumar é o principal fator de risco para o câncer e para outras
doenças graves, cardiorrespiratórias e cardiovasculares.
Muitos tipos de câncer não apresentam
sintomas no início e quando são descobertos já estão em um estágio avançado,
quando as chances de cura são menores. “É muito comum que pacientes com câncer
de pulmão, por exemplo, descubram a doença ao fazer exames de rotina para
outros problemas de saúde”, diz a oncologista clínica Paula Sampaio. “Muitas
vezes, vão ao médico por causa de uma tosse que não para, dificuldades
respiratórias, e descobrem um tumor”, explica.
Incidência – O câncer pode acometer
qualquer pessoa, independentemente de gênero, etnia ou idade. “Segundo a OMS,
cerca de 30% dos cânceres podem ser evitados se adotarmos hábitos saudáveis.
Por ironia, o câncer de pulmão, que é o tipo mais letal, é um deles. Pode
perfeitamente ser evitado, já que mais de 90% dos casos tem o cigarro como
causa principal”, diz a médica.
A incidência global do câncer de pulmão
pode chegar a 1,8 milhão de novos casos por ano. É o que mais mata no mundo,
com 1,6 milhão de mortes. Para o Brasil, estimam-se 18.740 casos novos de
câncer de pulmão entre homens e de 12.530 entre as mulheres para 2019. Sem
considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de pulmão em homens é o
segundo mais frequente. Entre as mulheres é o quarto mais frequente.
E o cigarro não causa apenas câncer de
pulmão. “Várias pesquisas já comprovaram que o fumo está relacionado a pelo
menos 17 tipos diferentes de câncer. Somente o abandono do hábito de fumar
aumenta a proteção contra a doença em cerca de 50%”, destaca Paula Sampaio.
Vício - Nove em cada dez fumantes
gostariam de largar o cigarro, 63% já tentaram fazer, mas não conseguiram. É o
que diz uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
São pessoas que continuam fumando não porque querem, mas porque não conseguem
se livrar do vício.
A médica alerta que, de todas as drogas,
a nicotina é a mais difícil de largar, mesmo depois de um diagnóstico de
câncer. “Um dado alarmante divulgado pelo Instituto Nacional do Câncer aponta
que mais de 50% dos pacientes com a doença continuam fumando durante o
tratamento”, informa a médica.
Esta dificuldade é bem conhecida pela a
aposentada Francisca* (nome fictício), de 70 anos. Ela fuma desde os 24,
começou “de brincadeira, acendia o cigarro para o meu irmão e minha cunhada e,
quando vi, já estava dependente”, lembra. Só conseguiu parar por um período,
quando ficou grávida da única filha.
Em novembro de 2015, ela descobriu que
estava com câncer quando fazia exames de rotina. O tumor em um dos pulmões
estava com 6 centímetros. Hoje, Francisca faz quimioterapia, mas quase 3 anos
depois e ainda em tratamento, ela não consegue abandonar o cigarro. “Sinto
muita vergonha, mas não consigo parar de fumar. É mais forte do que eu. Tenho
necessidade de ter sempre uma carteira de cigarros na bolsa”, conta Francisca,
que só concordou em dar entrevista sem ser identificada.
O vício dificulta até atividades
simples, como viajar com a família. A dependência é tão grande que uma viagem
de avião pode se tornar um martírio. “No ano passado, nas férias com a família,
viajamos para os EUA. O voo acabou demorando um pouco mais do que as seis horas
previstas. Foi o suficiente para eu entrar em abstinência. Eu chorava, queria
sair do avião de qualquer jeito para fumar”, lembra.
“Quando encontro outras pessoas fumando,
principalmente jovens, sinto pena e abordo mesmo. Conto minha história e peço
para parar de fumar enquanto é tempo”, afirma a aposentada. “É melhor que as
pessoas não cometam o mesmo erro que eu e nem comecem a fumar”, aconselha.
A OMS classifica o tabagismo no grupo
das doenças pediátricas porque cerca de 75% dos fumantes se tornam dependentes
antes dos dezoito anos; muitos o fazem aos doze ou treze, e até antes. Somente
5% começam a fumar depois dos vinte e cinco. Estudo veiculado na revista
científica Pediatrics, por exemplo, mostrou que ambientes expostos à fumaça de
cigarro estão impregnados por partículas cancerígenas, que podem permanecer no
local por até dois meses e afetar principalmente as crianças.
Risco passivo - Além dos fumantes –
cerca de 21 milhões de brasileiros, segundo dados do Ministério de Saúde –
outro grupo que também sofre com as adversidades do consumo do tabaco são os
fumantes passivos.
Quem convive em ambientes fechados com
fumantes também fica exposto aos componentes tóxicos e cancerígenos gerados
pela queima do tabaco e tem praticamente os mesmos riscos de desenvolver
câncer. Conforme o Ministério da Saúde, mais de 14 milhões de brasileiros são
fumantes passivos.
Boa notícia - O Ministério da Saúde
divulgou na última pesquisa Vigitel (2017), que o hábito de fumar caiu 36%
entre os brasileiros de 2006 a 2017. A pesquisa também constatou que o Brasil
conta hoje com mais ex-fumantes do que fumantes ativos: são 26 milhões contra
21 milhões.
Risco para fumantes passivos
- Em bebês: Um risco 5 vezes maior de
morrerem subitamente sem uma causa aparente (Síndrome da Morte Súbita
Infantil); Maior risco de doenças pulmonares até 1 ano de idade,
proporcionalmente ao número de fumantes em casa.
- Em crianças: Maior frequência de
resfriados e infecções do ouvido médio; Risco maior de doenças respiratórias
como pneumonia, bronquites e intensificação da asma. Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), os filhos de fumantes têm capacidade pulmonar duas
vezes menor do que os filhos de gestantes que não fumaram durante a gestação.
- Em adultos não-fumantes: Maior risco
de desenvolver doenças por causa do tabagismo, proporcionalmente ao tempo de
exposição à fumaça; Um risco 30% maior de desenvolver câncer de pulmão e 24%
maior de infarto do que os não-fumantes que não se expõem.
Fonte: Blog da Saúde
Benefícios de parar de fumar
- Em 20 minutos a frequência cardíaca
fica próxima do normal.
- Em 12 horas o nível de monóxido de
carbono do sangue volta ao normal.
- Em 24 horas a chance de ataque
cardíaco diminui.
- Entre dois a três meses a circulação
sanguínea e função pulmonar melhoram.
- Em até nove meses é percebida melhora
na capacidade respiratória.
- Em um ano o risco de ataque cardíaco
diminui em 50%.
- A partir de cinco anos o risco de
derrame cerebral é igual ao de alguém que nunca fumou.
- A partir de dez anos o risco de câncer
de pulmão é quase igual ao de alguém que nunca fumou.
- A partir de 15 anos o risco de doenças
cardíacas é quase igual ao de alguém que nunca fumou.
Fonte: Oncoguia