A legislação brasileira determina que a
doação de órgãos e tecidos deve ser autorizada pela família do doador falecido,
e essa decisão deve ser tomada no momento da perda de um ente querido. Um único
doador pode salvar muitas vidas. Porém, em 2018, 66% das famílias abordadas se
negaram a fazer a doação no Pará, segundo informações do Ministério da Saúde.
O desconhecimento da importância desse
gesto de solidariedade reduz a esperança de quem está na fila de espera dos
transplantes. Por esse motivo, o hospital público estadual Ophir Loyola (HOL),
que realiza transplantes de rim e córnea e faz a captação de múltiplos órgãos,
aderiu à campanha Setembro Verde. E para alertar sobre a importância dessa
medida para salvar vidas, promoveu nesta quarta-feira (25) mais um ciclo de
palestras de orientação, alusivo ao Dia Mundial de Doação de Órgãos - 27 de
Setembro.
Desde 1999, o Hospital Ophir Loyola faz
transplante de rim, com 670 procedimentos cirúrgicos realizados até o momento.
Também credenciado para realizar transplantes de córnea desde 2008, o HOL
realizou 336 cirurgias até o dia 18 deste mês. Hoje, os principais pontos de
doação de córnea no Pará estão no HOL e no Instituto Médico Legal Renato
Chaves, graças ao trabalho desenvolvido pelo Banco de Olhos.
Jairm Graim, coordenador da Comissão
Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott),
explicou que "a maioria dos pacientes do Hospital tem contraindicação à
doação de órgãos por ter problemas oncológicos", portanto o HOL depende da
doação via Central Estadual de Transplantes (CET). Ainda segundo ele, no que
diz respeito à doação de córneas (tecidos), a Cihdott faz um trabalho com o
Banco de Tecido Ocular para sensibilizar os familiares.
Atualmente, cerca de mil pacientes
precisam de um transplante de córnea no Pará. A retirada dos tecidos pode
ocorrer até 6 horas após o óbito. Excetuando-se os critérios específicos de
exclusão, como pacientes portadores de HIV e dos vírus das hepatites B e C,
qualquer pessoa, na faixa etária entre 2 e 70 anos de idade, pode ser doadora.
Empecilhos - Porém, a não autorização
pelas famílias também é um empecilho para quem aguarda na fila de espera. Os
motivos da recusa são diversos, como crenças religiosas, desconhecimento da
vontade do falecido, discordância entre familiares, demora na liberação do
corpo ou receio de deformidade. No entanto, a retirada dos órgãos é uma
cirurgia como qualquer outra, e o doador poderá ser velado normalmente. Segundo
a Central Estadual de Transplantes, os principais entraves são a falta de informação
e o medo do diagnóstico da morte encefálica.
"A informação ainda precisa chegar
à população, e o diagnóstico de morte encefálica no Brasil é o mais conservador
do mundo. É um diagnóstico seguro, realizado por, no mínimo, dois médicos
capacitados. A doação não ocorre se o diagnóstico da morte encefálica não
estiver de acordo com a lei", ressaltou Ierecê Carvalho, coordenadora da
CET.
Nesse sentido, técnicos da Central
Estadual de Transplantes atuam constantemente em hospitais que mantêm
Cihdott's, primordiais na abordagem às famílias. Para ser doador de órgãos é
simples: basta avisar a família. Quando os familiares não têm conhecimento
desse desejo, fica difícil tomar uma decisão no momento de perda.
Corrida - Em continuidade à campanha
Setembro Verde, o HOL inscreve até 25 de outubro para a "I Corrida Pela
Vida - Incentivo à Doação de Órgãos". Com um percurso de aproximadamente 8
km, a corrida ocorrerá no dia 27 de outubro, com largada e chegada no Parque
Estadual do Utinga.
As inscrições online estão disponíveis
no site www.chipbelem.com.br. Já as presenciais são realizadas de segunda a
sexta-feira, das 7 às 13 h, na Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e
Tecidos para Transplantes (Cihdott) do HOL, localizada na Avenida Magalhães
Barata, nº 992, bairro São Brás. O valor da inscrição é de R$ 50,00.