Ribeirinhos de Melgaço, no Arquipélago
do Marajó, podem abandonar a extração ilegal de madeira, que ainda persiste
como fonte de renda, pelo plantio lucrativo de limão taiti em várzea. O fruto,
também conhecido como "regional", tem fácil comercialização e uso
múltiplo, da culinária doméstica à indústria, mas as plantas raramente se
mantêm em terra alagada, porque acabam derrubadas pela força da maré.
De acordo com estudo in loco promovido
pelo escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do
Estado do Pará (Emater), a alternativa seria aterrar a várzea com compostagem
orgânica, inclusive resíduos desperdiçados das serrarias - um amontoado até
então tratado como lixo.
O estudo indica, ainda, que pelo menos
duas mil famílias moradoras da chamada "região das ilhas", a qual
abarca metade do município, enquadram-se de imediato no perfil da atividade.
Pequenas áreas, cerca de ¼ de hectare cada, chegariam a prover mais de R$ 15
mil por ano, sem entressafras e com pouco aporte tecnológico.
A maioria dessas famílias vive do
extrativismo de açaí, com flutuação da renda na entressafra (de janeiro a
junho), e da extração irregular de madeiras como virola e andiroba,
transformadas em cabos de vassoura e tábuas dentro de serrarias particulares
"quebra-peito". A própria atividade da serraria em nível artesanal é
perigosa, provocando acidentes graves, como mutilação de membros.
"O plantio de limão em várzea é uma
atividade saudável, de segurança alimentar, com colheita e, por conseguinte,
que gera receita o ano inteiro. O plano da Emater é a implantação em um modelo
de 'quintal produtivo' e sistemas agroflorestais [safs]: ou seja, demandando
apenas as áreas de margem das propriedades e consorciando com espécies nativas,
como açaí, sem prejuízo ao ecossistema", explica o chefe do escritório
local da Emater em Melgaço, o engenheiro florestal Milton Costa.
A ideia da Emater vem se inspirando na
experiência do agricultor Jonas Guedes, na comunidade Rio Jordão, no rio
Quaquajó. Com 30 pés em um espaço de 30m x 50m, a família vende limão taiti no
mercado local e já desfruta contratos fixos com supermercados de municípios do
nordeste paraense.
'Região das ilhas', no município de
Melgaço, no Marajó
"Eu comecei meio que por acidente,
jogando a moinha da serraria na beira do rio e insistindo no limoal. Era uma
área que só me dava açaí numa época específica, a safra, e agora todo tempo,
todo mês, já é uma força na minha renda, por causa do limão. Além de tudo, o
aterramento expandiu a zona da minha criação de 'serimbabos' [pequenos animais
- porcos, galinhas e patos], que podem circular com mais liberdade e distância",
diz Guedes.