Com a pandemia do novo coronavírus, o
consumo das famílias brasileiras ficará comprometido ao longo de 2020, se
igualando aos patamares de 2010 e 2012, descartando a inflação e levando em
conta apenas os acréscimos ano a ano. A projeção é uma movimentação de cerca de
R$ 4,4 trilhões na economia — um crescimento negativo de 5,39% em relação a
2019 —, a uma taxa também negativa do PIB de 5,89%. A previsão é do estudo IPC
Maps 2020, especializado há mais de 25 anos no cálculo de índices de potencial
de consumo nacional, com base em dados oficiais.
Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC
Marketing Editora e responsável pela pesquisa, esse crescimento negativo após a
pandemia cria um efeito déjà-vu, já que a economia “retomará os índices dos
últimos anos em que houve um progresso vigoroso”. O especialista ressalta que
no início de março, antes desse cenário de pandemia e isolamento social, “a
previsão do PIB para 2020, conforme o Boletim Focus do Banco Central, era de
+2,17%, o que resultaria numa projeção do consumo brasileiro da ordem de R$ 4,9
trilhões, superando os R$ 4,7 trilhões obtidos no ano passado.”
O levantamento aponta que, a exemplo de
2019, as capitais seguirão perdendo espaço no consumo, respondendo por 28,29%
desse mercado. Enquanto isso, o interior avançará com 54,8%, bem como as
regiões metropolitanas, cujo desempenho equivalerá a 16,9% neste ano.
Esta edição do IPC Maps destaca, ainda,
a redução na quantidade de domicílios das classes A e B1, o que elevará o
número de residências nos demais estratos sociais. Para Pazzini, “essa migração
das primeiras classes impactará positivamente o consumo da classe B2, com uma
vantagem de 6,8% sobre os valores de 2019”, explica. As outras classes, por sua
vez, terão queda nominal do potencial de consumo de 2,94% em relação a 2019.
Perfil básico – O Brasil possui mais de
211,7 milhões de cidadãos, sendo 179,5 milhões só na área urbana, que respondem
pelo consumo per capita de R$ 23.091,50, contra os R$ 9.916,75 gastos
individualmente pela população rural.
Base consumidora – Como já citado, neste
ano a classe B2 lidera o cenário de consumo, representando mais de R$ 1 bilhão
dos gastos. Junto à B1, estão presentes em 20,9% dos domicílios, sendo
responsáveis por 41,1% (R$ 1,7 trilhão) de tudo que será desembolsado pelas
famílias brasileiras. Se para a classe média a migração da classe alta para os
demais estratos é positiva, para quase metade dos domicílios (48,7%),
caracterizados como classe C, o total de recursos gastos cai para R$ 1,475
trilhão (35,6% ante 37,5% em 2019). Já a classe D/E, que ocupa 28,3% das
residências, consome cerca de R$ 437,9 bilhões (10,6%). Mais enxuto, em apenas
2,1% das famílias, o grupo A reduz seus gastos para R$ 528,6 bilhões (12,8%
contra 13,68% do ano passado).
O mesmo acontece na área rural que,
embora no ano passado tivera uma evolução significativa, neste ano perde de R$
335,9 para R$ 319,6 bilhões.
Cenário Regional – O destaque vai para a
Região Centro-Oeste que, ampliou em 7,9% sua participação no consumo,
respondendo por 8,86% dos gastos nacionais. Encabeçando a lista, embora com
pequenas contrações, aparece o Sudeste com 48,42%, seguido pelo Nordeste, com
18,53%. A Região Sul, que em 2019 tinha reduzido sua fatia, volta a subir para
17,97% e, por último, aparece a Norte, representando 6,23%.
Mercados potenciais – O desempenho dos
50 maiores municípios brasileiros equivale a 38,7%, ou R$ 1,759 trilhão, de
tudo o que é consumido no território nacional. No ranking dos municípios, os
principais mercados permanecem sendo, em ordem decrescente, São Paulo e Rio de
Janeiro, seguido por Brasília, que recuperou a 3ª posição, deixando Belo
Horizonte atrás. Já, Curitiba sobe para o 5º lugar, ultrapassando Salvador. Na
sequência, Fortaleza, Porto Alegre, Manaus e Goiânia — esta em 10º —, ocupam os
mesmos lugares de 2019.
Cidades metropolitanas ou interioranas
como, Campinas (11º), Guarulhos (13º), Ribeirão Preto (18º), São Bernardo do
Campo (19º) e São José dos Campos (21º), no Estado paulista; São Gonçalo (16º)
e Duque de Caxias (24º), no Rio de Janeiro; bem como as capitais Belém (14º),
Campo Grande (15º) e São Luís (17º) também se sobressaem nessa seleção.
Perfil empresarial – Houve declínio de
13% no número de empresas instaladas no Brasil, totalizando hoje 20.399.727
unidades. Deste montante, mais da metade (10,6 milhões) tem atividades
relacionadas a Serviços; seguida pelos setores Comércio, com 5,7 milhões;
Indústrias, 3,3 milhões e, por último, Agribusiness, com 703 mil
estabelecimentos.
Geografia da Economia – Como de costume,
a Região Sudeste concentra 51,98% das empresas nacionais, seguida novamente
pelo Sul, com 18,15%. Em caminho inverso, as demais regiões reduziram suas
atividades: O Nordeste conta com 16,96% dos estabelecimentos, Centro-Oeste com
8,27%, e o Norte com apenas 4,65% das unidades existentes no País.
Partindo para a análise quantitativa das
empresas para cada mil habitantes, o levantamento aponta uma retenção geral. As
Regiões Sul e Sudeste seguem liderando com folga, respectivamente, 122,63 e
119,12 empresas por mil habitantes; o Centro-Oeste aparece com 102,17 e, ainda
muito aquém da média, vêm as regiões Nordeste, com 60,30, e Norte, que tem
apenas 50,77 empresas/mil habitantes.
Hábitos de consumo – A pesquisa IPC Maps
detalha, ainda, onde os consumidores gastam sua renda. Dessa forma, os itens
básicos aparecem com grande vantagem sobre os demais, conforme a seguir: 25,6%
dos desembolsos destinam-se à habitação (incluindo aluguéis, impostos, luz,
água e gás); 18,1% outras despesas (serviços em geral, reformas, seguros etc);
14,1% vão para alimentação (no domicílio e fora); 13,1% a transportes e veículo
próprio; 6,6% são medicamentos e saúde; 3,7% materiais de construção; 3,4%
educação; 3,4% vestuário e calçados; 3,3% recreação, cultura e viagens; 3,3% em
higiene pessoal; 1,5% eletroeletrônicos; 1,5% móveis e artigos do lar; 1,1%
bebidas; 0,5% para artigos de limpeza; 0,4% fumo; e finalmente, 0,2% referem-se
a joias, bijuterias e armarinhos.
Faixas etárias – Em crescimento, a
população de idosos supera a margem de 30 milhões em 2020. Na faixa etária economicamente
ativa, de 18 a 59 anos, esse índice passa de 128 milhões, o que representa
60,5% do total de brasileiros, sendo mulheres em sua maioria. Já, os jovens e
adolescentes, entre 10 e 17 anos, vem perdendo presença e somam 24,1 milhões,
sendo superados por crianças de até 9 anos, que seguem a média de 29,4 milhões.