“A cardio-oncologia no tratamento do
câncer infantojuvenil exerce um papel fundamental para o alcance de bons
resultados no tratamento”, é o que afirma a médica cardiologista pediátrica
Maria Verônica Câmara dos Santos, do Comitê de Cardio-Oncologia da Sociedade
Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE).
O evento, realizado de forma remota, na
última quinta-feira, 25, voltado para médicos, enfermeiros e farmacêuticos do
Hospital Oncológico Infantil Octávio Lobo, em Belém, proporcionou uma abordagem
sobre a cardiotoxicidade em oncopediatria.
A ação foi planejada pelo Núcleo de
Apoio à Pesquisa (NAP) com a parceria do Núcleo de Educação Permanente (NEP) do
hospital. A unidade, que pertence ao Governo do Pará, sendo gerenciada pela
entidade filantrópica Pró-Saúde, atende jovens de 0 a 19 anos com câncer. O
hospital é o maior do Sistema Único de Saúde (SUS) com atendimento voltado
exclusivamente ao diagnóstico e tratamento especializado do câncer
infantojuvenil.
Maria Verônica atua como membro-diretor
do Departamento de Cardiopatias Congênitas e Cardiologia Pediátrica da
Sociedade Brasileira de Cardiologia (DCC/CP-SBC) e membro-coordenador do Grupo
Pediátrico da International Cardio-Oncology Society (ICOS Ped) e da Sociedade
Interamericana de Cardiologia (SIAC).
Em artigo de sua autoria a médica afirma
que “as doenças cardiovasculares e o câncer são as principais causas de morte
em países desenvolvidos, com aspectos epidemiológicos e fatores de risco
comuns”.
Segundo dados do Instituto Nacional de
Câncer (INCA), no Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022 a expectativa é de
8.460 casos novos na população infantojuvenil (0-19 anos). Em 2017, o câncer
motivou cerca de 2.553 óbitos nessa faixa etária no Brasil.
Durante a sua apresentação, a médica
explicou que “as complicações cardiovasculares, chamadas de cardiotoxicidade,
consequentes das diversas alterações do equilíbrio fisiológico do sistema
cardiovascular, induzidas pelo uso de medicamentos contra o câncer, são
responsáveis pelas maiores causas de morbimortalidade após a indesejada
evolução do próprio câncer”.
Em explanação, a médica Maria Verônica
afirmou que “o câncer infantojuvenil tem alcançado altos índices de cura nas
últimas décadas, superando os 80%, principalmente se diagnosticado precocemente
e tratado de forma adequada”. Para que esse sucesso ocorra, são utilizados
potentes medicamentos quimioterápicos, imunoterapia e radioterapia.
Porém, a médica chamou a atenção para os
efeitos provocados pelo tratamento. “O coração é um órgão bastante sensível aos
fortes efeitos desse tratamento, sendo importante o acompanhamento conjunto do
cardio-oncologista pediátrico desde o diagnóstico do câncer, durante o
tratamento e após a cura. Esse é o papel da cardio-oncologia: cuidar do
coração, proporcionando um tratamento mais seguro contra o câncer”, disse ela.
O primeiro relato sobre complicações
dessa natureza ocorreu na década de 1960, mediante observações relacionadas às
manifestações clínicas cardiovasculares do medicamento antibiótico daunomicina,
durante o tratamento de crianças com leucemia.
“De lá para cá, inúmeros estudos clínicos e experimentais envolvendo
todas as faixas etárias, diversos grupos terapêuticos e métodos diagnósticos
laboratoriais e de imagem multimodal foram publicados pela comunidade
científica”, destacou.
“A união entre oncologistas e
cardiologistas, com o apoio de suas equipes multiprofissionais, favorece o
tratamento mais seguro e permite ações de organização de registros nacionais e
programas de atendimento ainda carentes no nosso cenário”, concluiu a médica.
Segundo o diretor Técnico do Oncológico
Infantil, José Miguel Alves Junior, a troca de saberes serviu para ampliar
conhecimentos científicos e contribuiu para a atuação profissional. “A ideia
foi promover a toda equipe inserida no cuidado assistencial a maior segurança
para a identificação precoce de fatores de risco e expandir o conhecimento
acerca do tema”, observou o diretor.