Número de transplantes renais aumenta no Ophir Loyola após impacto do coronavírus

Valéria de Jesus - Transplantada

 


O número de transplantes de rim cresceu 66% em relação ao ano passado no Hospital Ophir Loyola, localizado em Belém, em razão da adequação aos protocolos de segurança, da vacinação em massa da população e da queda dos indicadores de Covid-19 que criaram condições sanitárias mais favoráveis ao procedimento. Durante o ano de 2020, somente 9 transplantes renais foram efetuados, contra 15 realizados de janeiro até o dia 06 de dezembro deste ano. Em 2018, foram realizados 30 transplantes e 27 em 2019. 

Autorizado pelo Ministério da Saúde a realizar transplantes de rim e córnea e captação de múltiplos órgãos na região Norte pelo Sistema Único de Saúde, há 22 anos o Hospital Ophir Loyola realiza transplantes renais com doadores vivos e falecidos. Existe um serviço pré-transplante com oferta de exames e com avaliação dos cirurgiões e dos nefrologistas; apenas os testes de compatibilidade são realizados no Hemopa. 

A equipe responsável pelas cirurgias e tratamento clínico é composta por urologistas, cirurgiões vasculares, nefrologistas, assistente social, psicólogo, anestesiologista e enfermeiros, e fica de sobreaviso contínuo durante todo o ano à disposição do transplante. Esse procedimento cirúrgico de alta complexidade é indicado quando os rins - órgãos cujas funções são filtrar e limpar o sangue das impurezas e controlar o excesso de água no corpo - deixam de funcionar corretamente e trazem prejuízos ao organismo.

 Entraves 

Desde o caso inaugural em 1999 até o momento, o HOL realizou 699 transplantes renais. Em todo o Brasil, o número de doações de órgãos e tecidos despencou durante a pandemia e, consequentemente, afetou os transplantes. Porém, conforme dados estatísticos do hospital, nos últimos três meses deste ano, (outubro, novembro e dezembro), os números voltaram a crescer na instituição. 

Mas a coordenadora da Clínica de Nefrologia do Ophir Loyola, Silvia Cruz, pondera que, em média, os pacientes esperam de três a cinco anos por um rim por falta de doação. "Existe a necessidade de aumentar a quantidade de doadores para poder beneficiar mais pacientes renais crônicos que passam por sessões de diálise com comprometimento da vida pessoal, profissional e familiar. Sem doação, não há transplante".

 A maior parte das cirurgias é realizada com doadores falecidos oriundos de hospitais de trauma e, principalmente, que sofreram acidentes e tiveram diagnóstico de morte encefálica. A doação só ocorre se autorizada pela família. A doação intervivos ocorre com parentes até quarto grau, tais como pais, avós, filhos e irmãos, tios e primos, sendo aceitos cônjuges desde que haja compatibilidade; fora desse padrão somente com autorização judicial para evitar o comércio ilegal de órgãos. A orientação é de que haja diálogo sobre o desejo de ser ou não doador a fim de facilitar a tomada de decisão. 

Para Silvia Cruz, a negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. "A disparidade geográfica é acentuada, em especial no Norte, com apenas 2 a 3 doações por milhão de população. Enquanto o Sudeste tem, em média, 22 doações por milhão de população, um fato que pode estar relacionado aos mais de 50 anos de realização de transplante renal no sul e sudeste a uma maior conscientização a respeito do ato de solidariedade", destaca Silva Cruz. 

Outro fator importante é o estabelecimento de critérios pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos e Tecidos (ABTO) como medida de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus, os riscos e benefícios foram avaliados para cada paciente levando as equipes transplantadoras a adiarem os procedimentos. Assim como o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio de nota técnica, contraindicaram a captação de órgãos e tecidos em doador com covid-19 e confirmado com síndrome respiratória aguda grave (Sars).

 Uma série de medidas foram tomadas para tentar modificar um cenário de leitos clínicos, cirúrgicos e de Unidade de Terapia Intensiva lotados com pacientes de covid por todo o país. Segundo a nefrologista Silvia Cruz, em fase mais acentuada da pandemia, os leitos de enfermaria e de UTI do HOL foram remanejados para atender pacientes oncológicos e renais crônicos com o novo coronavírus, a prioridade era assistir esse público.

 "O risco de contaminação dos enfermos e dos profissionais de saúde era muito grande. Os renais crônicos foram mantidos em diálise até melhorar a situação. Uma medida necessária porque o transplantado é imunossuprimido e existe um risco elevado de desenvolver a forma mais grave da infecção por Sars-Cov-2", esclarece a nefrologista.

 Mudança de vida 

Apesar de salvar muitas vidas, a hemodiálise é um tratamento paliativo que interfere na rotina diária dos pacientes. Eles necessitam ficar conectados a uma máquina por quatro horas seguidas durante três dias na semana e sofrem restrições dietéticas. Não podem ingerir quase nada de água e certos alimentos consumidos com naturalidade pela maioria das pessoas. Uma situação complicada, principalmente para as crianças e jovens, os quais deixam de estudar e trabalhar, respectivamente. 

Mesmo não sendo a cura, o transplante renal é uma das alternativas mais efetivas de substituição da função renal. Esse procedimento cirúrgico associado ao tratamento clínico periódico, com consultas e exames regulares, estabiliza e garante mais qualidade de vida aos renais crônicos em fase avançada. "Após a alta são acompanhados no ambulatório com liberação de dieta e imunossupressores regularmente. A possibilidade de praticar atividades físicas, exceto as radicais, e voltar às atividades laborais aumenta bastante", destaca Silvia Cruz.