Belém em forma de música: Autores tentam retratar a cidade por meio de suas letras


Nilson Chaves - foto divulgação

Belém do Pará é cantada em prosa e verso. Praticamente todos os ritmos são encontrados na capital: choro, heavy metal, bossa nova, tecnobrega, calypso, carimbó, jazz, punk e mpp. Os encantos da cidade morena servem de inspiração para muitos artistas locais, que tentam retratar em suas canções o que a “terrinha” tem de melhor.

Selecionamos e analisamos as músicas de dez cantores e autores que mais se destacam nos cenários regional e nacional. Os artistas escolhidos representam os diversos ritmos musicais do estado: Marco Monteiro, Lucinha Bastos e Nilson Chaves representam a música popular paraense; as cantoras Lia Soares e Fafá de Belém mostram a música pop para o Brasil; Pinduca é o representante do siriá e do carimbó; o rock é representado pela banda Mosaico de Ravena; o ex-casal Joelma e Ximbinha representam o calypso, e a cantora Gaby Amarantos, levanta a bandeira do tecnobrega.

Progresso, rio, mistura de raças...

A canção que retratou a visão de um turista, foi a de Nilson Chaves. A letra de “Olhando Belém” mostra que é possível ver a capital paraense da janela de um hotel. É de lá que o visitante pode ouvir o barulho dos pássaros, ver pessoas de diversas raças andando pelas ruas da cidade e saber das lendas amazônicas. Nilson Chaves mostra que a Amazônia é aqui. Ele ainda canta os contrastes da civilização com um mundo tranquilo vivido nessas bandas da região: “Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio; E o curumim assiste da canoa um boing riscando o vazio”.

O rock da banda Mosaico de Ravena é mais ácido do que as músicas melódicas de Nilson Chaves. A letra da canção “Belém, Pará, Brasil”, escrita por Edmar Rocha, é uma clara crítica à visão deturpada de moradores de outras cidades, principalmente as do sul do país, sobre a metrópole da Amazônia. O autor faz críticas ao avanço desenfreado da modernidade. Ele cita, por exemplo, a destruição do Ver-o-Peso para a construção de um Shopping Center. A letra ainda retrata o preconceito dos moradores de outras regiões do país, por ainda pensar que na região Norte, animais e índios andam no meio da rua: “Quem quiser venha ver; Mas só um de cada vez; Não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês”, ironiza.

Cultura, ritmo e turismo...



A banda Calypso, antes de chegar ao fim, compôs diversas músicas que falam do estado do Pará. Joelma e Ximbinha convidavam o turista para conhecer a capital paraense. A letra da música “Pará Belém” fala da mistura de raças, dos pontos turísticos, das danças e comidas típicas, além de artistas locais. “Vai Belém do Pará, carimbó, siriá, tucupi, tacacá, açaí na tigela; Vem Belém de Fafá, baía do Guajará, ilha do Marajó; ai que coisa mais bela”.

Nesta mesma levada, o carimbó do Pinduca apresenta a música “Depois da chuva”, escrita e cantada pelo próprio músico. Ela fala da tradição do povo belenense de marcar seus encontros somente após a chuva, e comer aquelas comidas típicas, principalmente ao entardecer. “Na Judite o tacacá; Tia Iá Iá no Tucupi; Castanha do Pará; Tigela com açaí”.

Lugares, artistas, aparelhagens...

Lucinha Bastos - Foto Agência Pará


A letra da música “A Força que vem das ruas”, de Toni Soares, interpretada pelos cantores Marco Monteiro, Lucinha Bastos e Nilson Chaves, fala dos ícones da cultura paraense. Num ritmo semelhante ao rap, a música é uma verdadeira viagem pelo mundo das artes, principalmente a popular. Toni Soares ainda passeia pelos bairros da Região Metropolitana de Belém: “Nos boca-de-ferro; da Pedreira, Marambaia; Terra-firme, Sacramenta; Marituba, Ananindeua, Icoaraci; do Benguí, pro Guamá...”.

A cantora Gaby Amarantos compôs a música “Batuque da Amazônia” representando o tecnobrega. Ela viaja por nomes importantes da cultura local e lugares famosos de Belém. Cita músicos de várias gerações e épocas diferentes, como por exemplo, Waldemar Henrique, mestre Cupijó e Pinduca. Não esqueceu do tradicional Ver-o-Peso, que abriga a venda de ervas e o tradicional açaí. As aparelhagens também têm lugar garantido nessa música dançante, assim como a chuva que mereceu um destaque especial: “Sou a música do Norte; Eu sou a estrela do Pará; Sou a chuva que cai à tarde; Sou o sol nascendo pra brilhar; Sou Belém do Pará!”.

Chuva, tacacá, Círio de Nazaré...

A música composta por Chico Sena, “Flor do Grão Pará”, interpretada pela paraense Lia Soares, retrata a Belém já cantada em prosa e verso por diversos artistas. O rio, a mangueira, o tacacá, o Ver-o-Peso, o bar do Parque e os passarinhos são retratados nos versos da canção. “Belém, Belém acordou a feira; Que é bem na beira do Guajará; Belém, Belém, menina morena; Vem Ver-o-Peso do meu cantar; Belém, Belém és minha bandeira; És a flor que cheira do Grão Pará!”.

Fafá de Belém - Foto Agência Pará


Quando a cantora Fafá surgiu para o Brasil, ela não se envergonhou da cidade e a acrescentou em seu nome artístico. Coube a Fafá de Belém mostrar o que a cidade tem de melhor. Suas músicas sempre falam da capital paraense. Uma que retrata bem o seu estado de espírito é a música “Eu sou de lá”, composta não por uma paraense, mas sim por um turista, o padre Fábio de Melo. A letra discorre também das mesmas situações de muitas: a predominância do rio, o sol forte, a mistura de raças. Padre Fábio não esqueceu, porém, de citar a chuva e o açaí. E como não deveria deixar de ser, o sacerdote falou da mais famosa festa religiosa do Brasil, que acontece em outubro em Belém do Pará: o Círio de Nazaré. “Domingo Santo que não posso descrever; É muito mais que ver um mar de gente, nas ruas de Belém a festejar”, diz a letra.

 Confira as letras das músicas

Olhando Belém
Nilson Chaves

O sol da manhã rasga o céu da Amazônia
Eu olho Belém da janela do hotel
As aves que passam fazendo uma zona
Mostrando pra mim que a Amazônia sou eu
E tudo é muito lindo
É branco, é negro, é índio
No rio tiete mora a minha verdade
Sou caipira, sede urbana dos matos
Um caipora que nasceu na cidade
Um curupira de gravata e sapatos
Sem nome e sem dinheiro
Sou mais um brasileiro
Olhando Belém enquanto uma canoa desce um rio
E o curumim assiste da canoa um boing riscando o vazio
Eu posso acreditar que ainda dá pra gente viver numa boa
Os rios da minha aldeia são maiores do que os de Fernando Pessoa

(e o sol da manha rasga o céu da Amazônia)
Olhando os meus olhos de verde e floresta
Sentindo na pele o que disse o poeta
Eu olho o futuro e pergunto pra insônia
Será que o Brasil nunca viu a Amazônia
E vou dormir com isso
Será que é tão difícil

Belém, Pará, Brasil (Edmar Rocha)
Mosaico de Ravena

Vão destruir o Ver-o-Peso
Pra construir um Shopping Center
Vão derrubar o Palacete Pinho
Pra fazer um Condomínio
Coitada da Cidade Velha,
que foi vendida pra Hollywood,
pra se usada como albergue
no novo filme do Spielberg
Quem quiser venha ver
Mas só um de cada vez
Não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês
A culpa é da mentalidade
Criada sobre a região
Por que é que tanta gente teme?
Norte não é com M
Nossos índios não comem ninguém
Agora é só Hambúrguer
Por que ninguém nos leva a sério?
Só o nosso minério
Quem quiser venha ver
Mas só um de cada vez
Não queremos nossos jacarés tropeçando em vocês
Aqui a gente toma guaraná
Quando não tem Coca-Cola
Chega das coisas da terra
Que o que é bom vem lá de fora
Transformados até a alma
sem cultura e opinião
O nortista só queria fazer
parte da Nação
Ah! chega de malfeituras
Ah! chega de tristes rimas
Devolvam a nossa cultura!
Queremos o Norte lá em cima!
Por quê? Onde já se viu?
Isso é Belém!
Isso é Pará!
Isso é Brasil!


Depois da Chuva
Pinduca

Alô ê lô ê lê lô
Eu vou falar com meu bem
Depois da chuva que cai
Todo dia em Belém

Vou a cidade passear
Ver o Arquimedes na esquina
E o cheiro do Pará
Na casa da Mariazinha

Na Judite o tacacá
Tia Iá Iá no Tucupi
Castanha do Pará
Tigela com açaí


Eu sou de lá
Fafá de Belém

Eu sou de lá.
Onde o Brasil verdeja a alma e o rio é mar.
Eu sou de lá.
Terra morena que eu amo tanto, meu Pará
Eu sou de lá.
Onde as Marias são Marias pelo céu.
E as Nazarés são germinadas pela fé.
Que irá gravada em cada filho que nascer.
Eu sou de lá.
Se me permites já lhe digo quem sou eu.
Filha de tribos, índia, negra, luz e breu.
Marajoara, sou cabloca, assim sou eu.
Eu sou de lá.
Onde o Menino Deus se apressa pra chegar
Dois meses antes já nasceu fica por lá
Tomando chuva, se sujando de açaí
Eu sou de lá
Terra onde o outubro se desdobra sem ter fim
Onde um só dia vale a vida que eu vivi.
Domingo Santo que não posso descrever.
Pois há de ser mistério agora e sempre.
Nenhuma explicação sabe explicar.
É muito mais que ver um mar de gente
Nas ruas de Belém a festejar
É fato que a palavra não alcança
Não cabe perguntar o que ele é
O Círio ao coração do paraense
É coisa que não sei dizer...
Deixa pra lá.
Terá que vir
Pra ver com a alma o que o olhar não pode ver
Terá que ter
Simplicidade pra chorar sem entender
Quem sabe assim
Verá que a corda entrelaça todos nós.
Sem diferenças, costurados num só nó.
Amarra feita pelas mãos da Mãe de Deus
Estranho, eu sei
Juntar o santo e o pecador num mesmo céu
Puro e profano, dor e riso, livre e réu.
Seja bem vindo ao Círio de Nazaré.
Pois há de ser mistério agora e sempre
Nenhuma explicação sabe explicar.
É muito mais que ver um mar de gente
Nas ruas de Belém a festejar
É fato que a palavra não alcança
Não cabe perguntar o que ele é
O Círio ao coração do paraense
É coisa que não sei dizer...
Pois há de ser mistério agora e sempre.
Nenhuma explicação sabe explicar.
É muito mais que ver um mar de gente
Nas ruas de Belém a festejar
É fato que a palavra não alcança
Não cabe perguntar o que ele é
O Círio ao coração do paraense
É coisa que não sei dizer...
Deixa pra lá


Flor do Grão Pará (Chico Sena)
Lia Soares

Rosa flor vem plantar mangueira
E o cheira-cheira do tacacá
Meu amor ata a baladeira
E balança a beira do rio mar
Belém, Belém acordou a feira
Que é bem na beira do Guajará
Belém, Belém, menina morena
Vem ver-o-peso do meu cantar
Belém, Belém és minha bandeira
És a flor que cheira do Grão Pará
Belém, Belém do Paranatinga
Do bar do parque do bafafá
Bentivi, sabiá, palmeira
Não dá baladeira
Deixa voar
Belém, Belém acordou a feira
Que é bem na beira do Guajará
Belém, Belém, menina morena
Vem ver-o-peso do meu cantar
Belém, Belém és minha bandeira
És a flor que cheira do Grão Pará



A Força que vem das ruas (Belém Belém) (Toni Soares)
Trilogia

Belém, Belém, Belém
Será que tá tudo bem?
Belém, Belém, Belém
Será que tá
Tudo bem, tudo bem?
A música na praça
O boi fazendo graça
É Ronaldo e seus meninos
Ensinando a nação
Que o futuro tá no centro da cultura
Da cultura popular, popular
E taca carimbó
De Pinduca, de Lucindo, Cupijó
Verequete, Pavulagem
Dos meninos Eduardo, Taynara e Cavalero
Vão tocar no preamar, preamar
O couro treme a terra
De fabico, de setenta
Malhadinho de bandeira
Seu Rufino, seu Joaquim
Laurentina muito linda quando canta
Dá vontade de chorar, de chorar
O grande capitão
Nos boca-de-ferro
Da Pedreira, Marambaia
Terra-firme, Sacramenta
Marituba, Ananindeua, Icoaraci
Do Benguí, pro Guamá, pro Guamá


Pará Belém
Banda Calypso

Vai Belém do Pará,
carimbó, siriá,
tucupi, tacacá,
açaí na tigela,
Vem Belém de Fafá, bahia do Guajará, ilha do Marajó,
ai que coisa mais bela,

eu vim de lá, eu vim de lá, eu vim de lá também,(bis)
vem dançar o carimbó, misturar com siriá, e depois veraniar, o ano inteiro,
vem na onda do calypso, na levada do calypso, quem não gosta de calypso, não é brasileiro,

...mistura de raças, da loira, da índia morena,
e o povo vem ver as coisas do meu Pará,
a minha cidade é bonita, é mais que um poema,
eu vou lhe dizer, que isso é Belém,