O que um cemitério arqueológico,
um território indígena esperando demarcação, epidemias na Amazônia, um corpo
encontrado no rio que precisa ser identificado e o racismo têm em comum? Todos
são objetos de estudo da Bioantropologia ou Antropologia Biológica, área que
pesquisa desde os processos evolutivos e adaptativos até as questões contemporâneas
que envolvem o homem e as sociedades.
O Programa de Pós-graduação em
Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGA/UFPA) é o único no Brasil
que oferece uma formação específica na área e as pesquisas desenvolvidas na
instituição serão apresentadas e debatidas durante o II Seminário de
Bioantropologia da UFPA, que é realizado nesta segunda-feira 26 e terça-feira 27,
em Belém. O evento é aberto ao público e gratuito.
Evento busca atrair novos
pesquisadores - De acordo com o professor Hilton Silva, um dos coordenadores do
evento, o principal objetivo da programação é divulgar para a sociedade as
pesquisas realizadas na UFPA e, quem sabe, atrair novos pesquisadores para a
Bioantropologia.
“Já lançamos o edital de seleção
do PPGA e o evento é uma oportunidade para conhecer mais sobre a área e, quem
sabe, decidir por essa carreira com atuação tão ampla e importante para a
Amazônia”, indica o antropólogo.
Na UFPA há duas linhas de
pesquisa na área: “Socioecologia da Saúde e da Doença” e “Antropologia Genética
e Forense”. “Essa área de concentração envolve uma grande diversidade de
objetos de pesquisa. A análise, por exemplo, de esqueletos de cemitérios
arqueológicos pode ajudar em processos de demarcação de terras indígenas ou
quilombolas, na medida em que ajudam no reconhecimento temporal daquela
ocupação”.
Não existem raças humanas -
Hilton Silva explica que ao longo do século XX a Bioantropologia tratou
exaustivamente da questão das raças e racismo. “A conclusão é que não existem
raças humanas, mas o racismo é real e persiste por ser, não uma questão
biológica, mas imaterial. As cotas, por exemplo, não buscam simplesmente
diferenciar as pessoas pela ‘cor’, mas reconhecer a necessidade de integrar um
segmento da sociedade que foi historicamente excluído e marginalizado, social e
economicamente”, defende.
Para o pesquisador a mudança
recente na legislação que indica uma avaliação dos candidatos pretos e pardos
que concorrem às vagas especiais em concursos públicos à partir de
características fenotípicas é, do ponto de vista antropológico e biológico, um
retrocesso.
“Foram criados, no Século XIX,
critérios para avaliar a possível origem ancestral de alguém à partir de
critérios fenotípicos, mas são variados e os resultados divergem, justamente,
porque não existem raças humanas. Então que critérios podem ser usados para
essa avaliação? A classificação em relação ‘cor’ de uma pessoa é interpretada
por uma outra e vai depender da história e formação cultural deste ‘avaliador’.
Além disso, estará ligada às percepções sociais sobre o tema, que mudam em cada
lugar e em cada época. Depende até mesmo do local do corpo avaliado porque
todos temos diferentes tonalidades no rosto, mãos ou áreas que recebem mais ou
menos a luz direta do sol”, detalha o pesquisador do PPGA.
Programação – Durante o II
Seminário de Bioantropologia serão debatidos temas como Origem e conceitos
básicos de Bioantropologia, Evolução e Variabilidade Humana, Noções de
Bioarqueologia e Bioarqueologia na Amazônia, Etnobiologia e Ecologia Humana,
Genética Antropológica e Antropologia Forense.
No último dia do evento também
será realizado um minicurso de introdução à Bioantropologia, no qual os
participantes poderão aprender sobre as origens e o estado da arte dos
principais temas ligados a esta linha de atuação com os principais
pesquisadores da região e ainda se informar sobre como construir uma carreira
bem sucedida na área.
“A participação no II Seminário
de Bioantropologia é importante para fomentar o ensino e a pesquisa na Amazônia
em um campo de estudo ainda pouco conhecido, mas que oferece um grande eixo
temático para explorar novas abordagens científicas, com uma visão
interdisciplinar e de caráter inovador. Conhecer os variados campos de estudos
da Bioantropologia ajuda a agregar conhecimento e nova visão de mundo de forma
geral. Por isso, todas e todos estão convidados!”, assegura Hilton Silva.
* Colaboração Ascom/UFPA