O Hospital Ophir Loyola realizou,
em caráter experimental, a primeira cirurgia com monitorização das partes
funcionais do cérebro feita no Pará pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No dia
19 de maio, Lucimery Capelo, de 47 anos, natural do município de Tome-Açu, foi
submetida a um procedimento para a retirada de um tumor do cérebro enquanto
estava acordada. A técnica avançada de monitorização neurofisiológica
intraoperatória permitiu o acompanhamento da atividade elétrica cerebral, em
tempo real, pela equipe médica.
Esse método visa garantir a
integridade de estruturas neurais específicas (porções do cérebro, medula,
nervos periféricos) durante cirurgias que as coloquem em risco. O coordenador
da Clínica de Neurocirurgia, Joel de Jesus, explica que existem áreas
eloquentes do sistema nervoso central consideradas nobres pelos
neurocientistas, por controlarem funções como a fala, a visão e os movimentos
do corpo, e que devem ser preservadas. Por esse motivo, o método foi utilizado
para preservar e não agravar o estado de Lucimery, que tem câncer de mama e
apresentava metástase na área motora com um déficit no lado do membro superior
direito.
Joel explica que o hospital
contou com o apoio do neurofisiologista Clauber Renis, que veio de outro estado
para ajudar na cirurgia. “Ainda não sabemos precisar uma data, mas esperamos
implantar em breve no hospital a técnica de monitorização na rotina dos
procedimentos de gravidade maior, para garantir cirurgias mais seguras e efetivas”,
afirma.
O especialista Airton Araújo, que
também integra a equipe do Hospital Ophir Loyola, detalha que a monitorização
permite a identificação do ponto exato de abordagem. “A tecnologia emite e
recebe estímulos cerebrais do início ao término da manipulação do órgão. O
aparelho emite um sinal de alerta para que algumas áreas não sejam afetadas,
evitando que o paciente tenha um déficit neurológico no pós-operatório mais
grave que aquele que o levou a passar pela cirurgia”, informa Airton.
Cirurgia
Uma equipe multidisciplinar
acompanhou a paciente, que passou por avaliação psicológica e recebeu
orientações sobre todo teste necessário para a realização da cirurgia. A
monitorização é instalada pelo neurofisiologista conforme a necessidade da
equipe de neurocirurgia. Todos os dados são transmitidos de forma contínua,
como ferramenta de localização que reduz o risco de lesão ao sistema nervoso
e/ou para prover a orientação funcional ao cirurgião e ao anestesiologista.
Inicialmente, o paciente é entubado,
submetido à anestesia geral e tem conectados eletrodos em todo o corpo. Após a
craniotomia (abertura do osso do crânio) ele é acordado por meio da diminuição
do nível de sedação. A partir daí é realizado um mapeamento das áreas
eloquentes e da localização do tumor pelo neurofisiologista. Durante a incisão,
é utilizado um aparelho denominado neuronavegador, que aponta as coordenadas,
permitindo a captação das funções sensitivas e motoras, por meio de um diálogo
contínuo com o paciente.
A metodologia anestésica é
diferenciada. “Induzimos Lucimery à anestesia geral para a primeira etapa,
depois ela foi acordada para que ficasse sedada, porém consciente. Associada à
anestesia geral, o couro cabeludo da paciente também recebeu anestesia, para
que suportasse o fixador durante a operação, sem sentir nenhum desconforto ou
dor. Após a retirada do tumor, novamente a paciente foi induzida à anestesia
geral. E tudo ocorreu conforme nossas expectativas”, comemora Karina Rezende.
A precisão e a segurança
asseguradas pela monitorização das partes funcionais do cérebro e o
acompanhamento de imagens cerebrais, por meio do neuronavegador, garantiram o
sucesso do procedimento e uma sobrevida maior à Lucimery, que já retornou ao
município onde reside. “A equipe conseguiu preservar as funções motoras e
sensoriais, além de garantir mais qualidade de vida à paciente. Diferente da
cirurgia convencional, esse procedimento reduz o tempo de permanência na
Unidade de Terapia Intensiva e na enfermaria e aumenta a rotatividade dos serviços”,
informou Airton Araújo.
O Serviço de Neurocirurgia do
Hospital Ophir Loyola funciona desde 1974. Hoje conta com várias
subespecialidades de neurocirurgia, como a oncologia que opera tumores
cerebrais, a cirurgia da coluna, a cirurgia vascular e endovascular cerebral, a
neurocirurgia estereotáxica funcional, epilepsia refrataria em fase de
implantação e a cirurgia dos nervos periféricos.