Primeiro, a imagem registra dois
animais que caminham pela floresta por volta do meio dia. Um deles fica para
trás e, curioso, começa a interagir com as armadilhas fotográficas, colocadas
no tronco de árvores baixas na floresta. Em seguida, chega mais um animal, o
terceiro exemplar de suçuarana (Puma concolor), também conhecida como puma,
onça-parda ou onça-vermelha. Pesquisadores do Grupo de Pesquisa Ecologia e
Conservação de Felinos na Amazônia do Instituto Mamirauá acreditam se tratar de
uma cena rara, já que esses animais são conhecidas por terem hábitos solitários
e atividade predominantemente noturna. O registro, feito em março pelas
armadilhas fotográficas do Instituto Mamirauá, durou menos de dois minutos.
A cena completa da interação
entre os pumas está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=uTxnHAgUn18
"É uma coisa que a gente
escuta falar, vez por outra, na reserva, contou o pesquisador do Instituto
Mamirauá, Diogo Gräbin. "Eu me surpreendi, realmente, não imaginei que
três pumas fossem andar juntas e estavam tranquilas, não era uma situação de
conflito. Talvez seja o que eles chamam de vadiação, acasalamento, um
comportamento reprodutivo".
As suçuaranas são conhecidas pela
coloração uniforme do pelo, que varia do cinzento ao marrom-avermelhado. É o segundo felino mais pesado das Américas,
atrás apenas da onça-pintada, podendo pesar até 72 kg. Acredita-se que suas
áreas de vida variem entre 50 e 1000 km². As femêas possuem uma gestação que
pode durar entre 90 e 96 dias e geramente tem de 3 a 4 filhotes, a cada 2 anos,
segundo a literatura disponível. É um animal bastante adaptável e vive em
habitats variados, como as florestas tropicais, desertos e montanhas. Não é
considerado em risco de extinção pela União Internacional para a Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), mas, devido ao avanço da ação humana,
não é mais encontrado na região leste da América do Norte e em algumas
localidades das Américas Central e do Sul.
Como o trabalho é realizado?
As armadilhas fotográficas são
pequenas máquinas instaladas na floresta, a um nível próximo ao solo e em
mimetismo com o ambiente. Elas são equipadas com câmeras que registram imagens
coloridas, em escala de cinza ou em modo infravermelho (de acordo com a luminosidade
do momento) e sensores que disparam quando um corpo com a temperatura diferente
do ambiente se movimenta em frente à armadilha. Geralmente os disparos são
estimulados por um animal de sangue quente, um vertebrado terrestre.
Recentemente, o pesquisadores e
assistentes de campo percorreram a área conhecida como igarapé do Ubim, dentro
da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, estado do Amazonas. Lá,
executaram a coleta de dados e a reinstalação de armadilhas fotográficas para
monitoramento da fauna de vertebrados terrestres. Um trabalho difícil e
essencial para investigar e conhecer sobre a biodiversidade da Amazônia. As
expedições de 2017 começaram em fevereiro e têm o financiamento da Fundação
Gordon and Betty Moore, organização de fomento à ciência e à conservação
ambiental.
Segundo o pesquisador Diogo
Gräbin, existem quarenta e três estações em atividade no igarapé do Ubim, local
onde foi feito o registro das suçuaranas. "Estação é como chamamos os
pontos da floresta em que são instaladas duas armadilhas fotográficas, uma de
frente para outra, para captarmos os dois lados dos animais", explica. As
estações são montadas e programadas a cada dois meses, em média. Nesse período,
cada armadilha fotográfica registra cerca de 900 a 1.500 fotografias. Material
valioso para análises de identificação e características biológicas, que já
estão sendo feitas pela equipe de pesquisadores do Instituto Mamirauá- unidade
de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações
(MCTIC).
Turismo Científico com
onça-pintada
"Bip...bip...bip". O
barulinho captado pelo receptor de rádio frequência é uma das melodias
preferidas da pesquisadora do Instituto Mamirauá, Wezddy Del Toro. "É um
som maravilhoso pelo que ele representa", conta. O sinal vem de colares
telemétricos colocados em onças-pintadas e indica a proximidade de um dos
animais na natureza. Para Wezddy, que faz parte do Grupo de Pesquisa em
Ecologia e Conservação de Felinos da Amazônia, esse é o som da temporada de
turismo de observação de onças-pintadas na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável Mamirauá, estado do Amazonas.
Chamado "Expedição
Onça-Pintada" ou, no inglês, "Jaguar Expedition", o projeto está
no terceiro ano de atividades, com três pacotes turísticos e limite de um a
seis visitantes por excursão. Wezddy explica que o número reduzido de turistas
é intencional: as atividades são planejadas para o menor impacto ou
interferência no ambiente das onças-pintadas, em sintonia com o ritmo e a vida
desses animais na várzea. Os pacotes são uma parceria do Instituto Mamirauá e a
Pousada Uacari, hospedagem flutuante de turismo de base comunitária.
"Para conservar, é preciso
conhecer e amar", afirma Wezddy. A pesquisadora explica que a
"Expedição Onça" é uma alternativa para ajudar na conservação dos
felinos. "O turismo de observação é uma forma de envolver os comunitários
nas atividades turísticas e científicas e coletar dados durante as atividades
para pesquisas. Parte do dinheiro arrecadado vai para as comunidades e outra
parte financia a continuidade dos estudos sobre as onças-pintadas na
reserva".
A onça "fofa"
Fofa, uma fêmea de onça-pintada,
é monitorada pelo Instituto Mamirauá desde 2016, quando ainda estava grávida,
de dois animais. Este ano, durante o monitoramento, ela foi avistada com outro
filhote, recém nascido. "O que nos impressionou é que a Fofa tenha tido
outro filhote em tão pouco tempo. Geralmente as onças fêmeas esperam e
acompanham o crescimento de um filhote para acasalar de novo. Esse fato leva a
novas perguntas e hipóteses sobre o comportamento das onças-pintadas", diz
a pesquisadora.
A gestação de uma onça-pintada
dura três meses. O Grupo de Felinos do Instituto Mamirauá calcula que Fofa
tenha acasalado com um macho da espécie por volta de dezembro do ano passado.
"Nesse período, nossas armadilhas fotográficas instaladas na floresta
registraram imagens de Fofa na companhia de outra onça-pintada", conta
Wezddy. "A princípio, pensávamos que era o seu filhote anterior, mas pode
se tratar de um parceiro sexual".
O avistamento do fato inédito foi
feito em uma floresta inundada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, estado do Amazonas. A equipe do Instituto Mamirauá, formada pela
pesquisadora Wezddy Del Toro e o assistente de pesquisa, Valciney Martins, estava
monitorando o sinal de Fofa através de um rádio colar colocado no pescoço do
animal.