Quanto mais floresta na paisagem,
maior a diversidade de espécies de mamíferos arborícolas encontrados em ilhas
fluviais da região do curso médio do Rio Solimões, no Amazonas. Este é um dos
resultados divulgado recentemente em um artigo no Journal of Biogrography
Wiley, publicação científica internacional. A descoberta dos cientistas foi
durante uma pesquisa científica realizada no Instituto Mamirauá, que atua como
unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações.
"A quantidade de floresta na
paisagem é mais importante que o tamanho da ilha para determinar a riqueza de
espécies. Ou seja, mesmo uma ilha pequena pode conter uma riqueza alta de
espécies se ela estiver inserida em uma paisagem com bastante floresta no seu
entorno", comentou Rafael Rabelo, um dos autores da publicação. "Além
disso, de acordo com nossas análises, esse efeito da cobertura florestal em
escala da paisagem ocorre em um raio de 5.500 km, ou seja, estamos falando de
paisagens bastante extensas", explicou.
Nos anos de 2013 e 2014, os
pesquisadores estiveram em campo para fazer o levantamento do número de
mamíferos em ilhas dos rios Solimões e Japurá. Entre 2015 e 2016, os cientistas
desenvolveram as análises dos dados até chegarem aos resultados. "Do ponto
de vista de conservação, esse resultado é bastante importante no nosso contexto
local, a Reserva Mamirauá. E que também pode ser pensado para outros contextos
onde há perda e fragmentação de habitat. Levando em consideração que, especialmente
na Amazônia ocidental, as populações humanas ocupam justamente as paisagens às
margens dos rios, é preciso que haja um controle do desmatamento nessas
paisagens para impedir a perda de espécies", comentou Rafael.
Os pesquisadores também
concluíram que o número de espécies encontradas em ilhas aumenta em
concordância com o tamanho da ilha. "Mas isso acontece devido um efeito de
amostragem, ou seja, quanto maior a área amostrada, maior será o número de
espécies encontradas", disse Rafael. De acordo com ele, o trabalho
demonstra a importância de se controlar o viés de amostragem nos levantamentos
de espécies para que sejam identificadas as respostas ecológicas das espécies
às mudanças da cobertura vegetal, sem equívocos.
Assinam o artigo Rafael, que
desenvolveu a pesquisa pelo Instituto Mamirauá e pela pós-graduação em Ecologia
no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa); Júlio César
Bicca-Marques, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul; Susan
Aragón, da Universidade Federal do Oeste do Pará e Bruce Walker Nelson, também
do Inpa.