O dia seis de outubro deste ano
será marcado como o Dia Mundial da Paralisia Cerebral, uma desordem motora que
ocorre durante o desenvolvimento do cérebro fetal ou até os dois anos de vida
da criança. O World Cerebral Palsy Day - worldcpday.org - referencia a data
promovendo a conscientização sobre a doença, a fim de melhorar a vida dos
portadores dela e de seus familiares. Hoje, o movimento é liderado por um grupo
de organizações sem fins lucrativos e apoiado por entidades em mais de 60
países, incluindo o Brasil.
De acordo com a Cerebral Palsy
Foundation (CPF), a cada hora uma criança nasce com paralisia cerebral no
mundo. A condição acomete cerca de 17 milhões de pessoas em todo o planeta¹.
Por isso, é importante levá-la a público para que o diagnóstico seja feito
antecipadamente. “Quanto mais precoce se faz o diagnóstico maior as chances de
ganhos funcionais com o tratamento de reabilitação. Isso se deve a neuroplasticidade,
que é a capacidade do sistema nervoso de se modificar mesmo após uma lesão
extensa. Quanto mais nova a criança, maior é a sua neuroplasticidade. Assim, o
diagnóstico precoce de um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor é de
extrema importância”, afirma o Prof. Sandro Rachevsky Dorf, médico fisiatra,
professor do departamento de pediatria da UFRJ e membro titular da Associação
Brasileira de Medicina Física e Reabilitação.
A Dra Carla Caldas, Neuropediatra
e Fisiatra do Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas da USP – Ribeirão
Preto, referência no tratamento de crianças com paralisia cerebral, e ponto
focal da campanha no país, pontua que “hoje a tendência é, cada vez mais, fazer
avaliações precisas com 98% de descoberta no período neonatal”, tornando um
cenário positivo em relação ao diagnóstico precoce.
Uma das manifestações da
paralisia cerebral se dá por meio de distúrbios motores, que se diferenciam
pela área do cérebro atingida. Existem três tipos de distúrbios: espástica, em
que os músculos ficam rígidos e existe dificuldade de movimentação;
discinética, quando os movimentos acontecem de forma exagerada e involuntária;
e atáxico, tipo mais raro que apresenta tremores e falta de coordenação dos
membros superiores e inferiores.
A espástica é o distúrbio motor e
postural mais comum com incidência entre 75%² a 88%³ entre as crianças
acometidas. O tratamento de reabilitação deve ser idealmente realizado com uma
equipe multidisciplinar composta por: médico, fonoaudiólogo, fisioterapeuta,
terapeuta ocupacional e psicólogo, entre outros.
Este programa pode incluir
aplicações da toxina botulínica. “Feita nos músculos com um padrão espástico, a
toxina botulínica propicia um relaxamento temporário, facilitando ganhos
funcionais e cuidados diários da criança pelo cuidador”, como explica o Dr.
Sandro Dorf. No Brasil, a toxina está disponível no SUS para ser utilizada para
estes fins.
Os pais, em conjunto com os
pediatras, têm um importante papel para perceber sinais sugestivos de paralisia
cerebral. Dr. Sandro comenta que é possível perceber indícios de que a criança
pode apresentar algum atraso decorrente de uma lesão cerebral por meio da
detecção dos principais marcos do desenvolvimento esperados para a idade. “Os
marcos do desenvolvimento neuropsicomotor devem ser sempre avaliados. Por
exemplo, a partir de três meses a criança deve ter a capacidade de sustentar a
cabeça. Outro exemplo é a capacidade de permanecer sentada colocada sem apoio a
partir de 6 meses. Aos nove meses, espera-se que tenha capacidade de passar
para de pé e permanecer nesta postura com apoio, além de com um ano andar sem
auxílio e falar as primeiras palavras. Caso ela não execute tais marcos, pode
representar um atraso no desenvolvimento. Por isso, o acompanhamento médico
regular é fundamental, já que poderá intervir após o diagnóstico precoce deste
atraso”.
Entre 2015 e 2016 o Brasil se viu
em meio a um surto de nascimentos de crianças com microcefalia, em decorrência
da infecção provocada pelo Zika Vírus. É importante ressaltar ainda que a
maioria dessas crianças apresentam sinais de paralisia cerebral. “A data é
importante para levar conhecimento e lembrar que as crianças acometidas pelo
Zika Vírus apresentam alteração motora e de postura, sendo mais uma das causas
de paralisia cerebral”, alerta Dra. Carla.
Referências
¹ World Cerebral Palsy Day. Available from:
<https://worldcpday.org/tools/#1493959825296-f73f835a-071e>. Acess 2017
sep 21.
² Kopec K. Cerebral palsy: pharmacologic treatment of
spasticity. US Pharm. 2008;33(1):22-26.
³ Téllez de Meneses M, Barbero P, Alvarez-Garijo JA,
Mulas F. Intrathecal baclofen and Botulinum toxin in infantile cerebral palsy. Rev
Neurol. 2005;40 Suppl 1:S69-73.