Salvar vidas tem sido a principal
missão do Banco de Leite da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará,
referência no Estado em captação de leite humano. Desde que foi criado, em
1987, ele conta com a solidariedade e o trabalho de diversos atores,
fundamentais para a sua existência. Dentre eles, estão mães lactantes que
disponibilizam um pouco de tempo e atenção para alimentar outras crianças, que
nem chegam a conhecer.
Hoje a Santa Casa possui 170
leitos para essas crianças e a maioria precisa muito dessas doações. Os motivos
são vários, entre eles: prematuridade, por não conseguirem mamar, por
enfermidade das mães ou não produção de leite materno. Mas independentes deles,
essas crianças estão ali, aguardando para serem salvos. E para isso, contam com
a ajuda de outras mães, verdadeiras heroínas, para continuarem lutando pela
vida.
Por mês, são cadastradas, em
média, cerca de 300 a 400 mulheres para doação de leite, mas esse número está
reduzido. Em janeiro deste ano, apenas 148 lactantes fizeram doações, o que não
supre a necessidade da maior maternidade pública do Estado.
No interior da Santa Casa, uma
equipe trabalha todos os dias para auxiliar na captação desse leite e trazer
sempre novas doadoras para o banco. Além de funcionários da Fundação, uma
equipe formada por Bombeiros, militares e civis, trabalha na sensibilização
dessas mulheres, não só dentro do hospital, mas em creches, escolas, igrejas e
comunidades onde possa se dissipar a informação e a necessidade de novas
doadoras.
A oficial do Corpo de Bombeiros,
Kécia Eloi atua na instituição há nove anos e há seis dentro da Santa Casa, no
Banco de Leite. “Todos os dias trabalhamos montando kits de coleta, fazemos
cadastro das doadoras, vamos até a casa delas, buscamos o leite e trazemos de
volta para a maternidade. É um trabalho intenso, mas necessário. Muitas vezes fico
olhando para esses bebês, tão pequenos, tão necessitados e isso me motiva e me
dá forças para fazer meu trabalho da melhor forma”, conta.
A equipe em que a oficial atua é
formada, em sua maioria, por mulheres (nove militares e seis civis) e se
desdobra para não deixar faltar leite. “Percorremos, ao todo, 54 bairros de
Belém e Região Metropolitana. Passamos na casa das doadoras cadastradas numa
semana e, na outra, voltamos para recolher o que foi captado por elas. Ao
chegarmos às casas entregamos os kit (um
pote transparente rosqueado, uma touca de cabelo e uma máscara para o rosto),
orientamos como deve ser feita a ordenha e, em seguida, o armazenamento”,
detalha Kécia.
Uma das mulheres mais visitadas
pela equipe dos Bombeiros, nos últimos tempos, é a jovem Paula Góes, de 28
anos. Mãe há 11 meses, ela conta como começou a fazer as doações. “Soube do
Banco de Leite e da importância dele quando fui estagiária da Santa Casa, em
2014. Na época, disse que quando fosse mãe iria amamentar meu filho e, se pudesse,
doaria o excedente. Foi o que aconteceu. O Lourenzo nasceu ano passado e desde
então comecei as doações. Tinha muito leite, meu peito endurecia e doía. As
doações ajudaram não só a aliviar meu desconforto, como também, com certeza
ajudaram a vários filhos de leite que ganhei”, contou.
Até os primeiros quatro meses do
filho, Paula conseguia captar 15 vidros de 500 ml de leite, o equivalente a 7,5
litros de “vida”. “Na maternidade os bebês da UTI (Unidade de Terapia
Intensiva) são alimentados de três em três horas e, geralmente, tomam entre 5 e
10 ml, ou seja, tenho certeza que ajudei bastante. Depois de alguns meses
diminuiu para 12 vidros e agora está entre 4 e 5. Vou continuar ajudando até
quando tiver leite”, garantiu.
Banco
Com pouco mais de três décadas de
existência, o Banco de Leite Humano da Santa Casa do Pará é um dos maiores do
país. Responsável pela promoção de ações destinadas a incentivar o aleitamento
materno, e ainda pela coleta, processamento, controle de qualidade e
distribuição do excedente de leite humano das doadoras, incluindo mães de
recém-nascidos, que por algum problema, não podem mamar.
Em 2013, de acordo com um
relatório da instituição, o Banco de Leite foi o responsável pela coleta e
distribuição de leite para cerca de 900 bebês internados na Santa Casa. Os
recém-nascidos prematuros são a maioria entre o público beneficiado.
O projeto é reconhecido
nacionalmente e já recebeu importantes prêmios e certificações pelos relevantes
serviços prestados, em favor da saúde da mulher e da criança.
A coordenadora do Banco de Leite
da Santa Casa, Cynara Souza reforça a importância da parceria com o Corpo de
Bombeiros. “Poucos bancos pelo país têm essa ajuda e apoio que temos aqui. É
uma parceria fundamental que traz novas doadoras, as ensina e ainda vai buscar
esse leite, tudo para promovermos a vida e a diminuição da mortalidade
infantil”, comemorou.
Após a captação do leite, todo um
processo é iniciado dentro do Banco. “O leite humano passa por um controle de
qualidade rigoroso, que acompanha as regulamentações do Ministério da Saúde,
que vai desde o controle clínico da doadora a vários testes no material
coletado para saber se ele está apto ao consumo”, enfatizou Cynara Souza.
Cuidados
Podem ser doadoras, mulheres que
estão amamentando, apresentem excesso de leite, estejam em boas condições de
saúde, não façam uso de medicamentos que impeçam a doação e estejam disponíveis
a coletar e a doar o excedente.
O leite precisa ser coletado com
um frasco específico para esse fim. Deve conter tampa plástica, podendo ser de
café solúvel ou maionese, sem rótulo. É necessário ser limpo com água e sabão e
fervido por 15 minutos. O leite precisa ser retirado depois que o bebê mamar ou
quando as mamas estiverem muito cheias. Após retirar, a doadora precisa
armazenar o frasco diretamente no congelador.
Serviço
As doadoras ou aquelas que tenham
interesse em doar podem entrar em contato pelos telefones: 4009-2212 /
4009-0375 ou pelo site da Santa Casa (http://www.santacasa.pa.gov.br/doadoras)
e do Corpo de Bombeiros do Pará (http://www.bombeiros.pa.gov.br/campanhas/cadastro-de-doadoras-de-leite-materno).
A doadora não precisa ir até a Santa Casa. Uma equipe do projeto Bombeiros da
Vida faz a coleta no domicílio.