O Hospital Regional Público do Araguaia
(HRPA) entrou, na quinta-feira (30), para a história da Saúde Pública do
Pará, ao realizar o primeiro transplante de rim com doador falecido. O órgão
foi captado no Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém, e
transplantado no paciente Cleiton Rodrigues dos Santos, de 31 anos, que é de
Conceição do Araguaia, fazia sessões de hemodiálise no HRPA, e havia perdido os
rins há 16 anos após acidente de trânsito em que teve trauma renal.
Segundo o diretor do HRPA, Pedro
Anaisse, só foi possível realizar o procedimento inédito porque a equipe de
transplante do HRPA estava completa, incluindo o cirurgião transplantador do
Hospital Bandeirantes de São Paulo, Juan Branhez, que estava em Redenção, onde,
na terça e quarta-feira, a equipe havia realizado dois transplantes renais de
doares vivos, que também foram bem sucedidos. “Foi uma grande felicidade a
equipe estar toda disponível após o 54º e 55º transplantes renais intervivos
terem sido realizados. É um marco bastante importante para a saúde pública da
região Sudeste do Estado”, comemorou o diretor do Hospital Regional.
Pedro Anaisse contou que o transporte do
órgão para Redenção só foi possível graças ao apoio recebido de um fazendeiro
de soja, que cedeu seu avião ao tomar conhecimento da necessidade após a
informação chegar ao grupo de WhatsApp do qual faz parte e reúne mais de 100
pessoas que lidam com serviço de transporte aéreo. Além disso, as pessoas do
grupo decidiram contribuir com recursos financeiros e viabilizaram a vinda do
avião de Redenção diretamente para Belém para buscar o rim e retornar para o
município. “Inclusive, eles liberaram o avião com os custos para que ele saísse
de Redenção para Belém e não para Marabá mesmo sem a certeza absoluta de que o
órgão estaria disponível. Então, foi uma iniciativa importante e demonstração
de solidariedade da sociedade local”.
A Central de Transplantes da Sespa
recebeu os dois rins na quarta-feira (29), tendo sido constatada a
compatibilidade com dois pacientes que aguardavam na fila de transplantes, um
de Belém, que recebeu o novo órgão no Hospital Ophir Loyola (HOL) e o de
Conceição de Araguaia, que recebeu o órgão no HRPA.
Então, no início da tarde desta
quinta-feira (30) no aeroporto Brigadeiro Protásio, a coordenadora da Central
de Transplantes, Ierecê Miranda, acompanhada por Pedro Anaisse, entregou o
órgão ao enfermeiro Diogo Amaral e à farmacêutica Thayse Araújo, que integram a
equipe de transplantes do HRPA e vieram no avião para recebê-lo.
Ierecê Miranda informou que, atualmente,
há 490 pacientes aguardando por um rim na fila de transplantes e que a
realização do transplante renal com órgãos oriundos de doadores falecidos no interior
do Estado ainda é um desafio muito grande em razão de o Pará ser um estado
extenso e com carência de voos comerciais em muitos locais. “Em Redenção, por
exemplo, não há operacionalização desses voos o que dificulta o acesso do
paciente a esse tipo de tratamento. Mas a Central de Transplantes da Sespa está
empenhada em vencer os obstáculos desenvolvendo estratégias para oferecer o
serviço de transplante o mais próximo possível do local onde o paciente
reside”, disse a coordenadora.
Sobre a escolha do paciente a ser
beneficiado com um novo órgão, ela informou que a compatibilidade entre doador
e receptor é fundamental e é feita por tipagem sanguínea (ABO) e pela tipagem
tecidual (HLA) sendo esses os principais critérios de seleção dos receptores
quando há órgão disponível para
transplante. “A seleção é realizada por meio de um sistema informatizado criado
pelo DataSUS para o cadastro de receptores e doadores de órgãos e quando é
feito o cruzamento desses dados é gerado um ranking de receptores em ordem de
compatibilidade”, explicou Ierecê.
A cirurgia para transplante do órgão foi
realizada no início da noite da última quinta-feira, pela equipe chefiada pelo
cirurgião nefrologista Juliano Mundim, que é coordenador do Programa de
Transplantes do HRPA. O procedimento ocorreu dentro do programado e o paciente
está muito bem.
Para Mundim, a realização do transplante
é de extrema importância, pois demonstra a integralização do Estado, a
humanização e comprometimento em promover a Saúde a todos os paraenses independentemente
da distância da capital. “Estamos a mais de dois mil quilômetros de Santarém,
onde o órgão estava. Mas o principal é poder devolver saúde, qualidade de vida
e nova esperança para um paciente com doença renal crônica que fazia
hemodialise há mais de 15 anos”, afirmou o médico. “Estamos muito contentes em
poder promover essas mudanças na região e ser um motivador e incentivador para
o Estado para otimizar nossa logística aqui do Sul do Pará”, ressaltou Mundim.
Juliano Mundim e Juan Branhez integram a
equipe multidisciplinar de transplantes do HRPA juntamente com o médico
nefrologista Giordano Ginani; os urologistas Fernando Cassadini e Marcelo
Vidigal; os cirurgiões-gerais Faure Lopes, Jacob Nicoleta, Rodrigo Timo e
Fabrício Ribeiro; o cirurgião vascular Felipe de Sá; os anestesistas Filipe
Vieira, Gabriel Cangussu, Jorge Antonio Barbosa e Ingridy Miranda; o enfermeiro
Diogo Amaral, a farmacêutica Thayse Araújo e a assistente social Sara André.
Além do serviço de transplante intervivo
implantado em 2012, tendo realizado até o momento 55 transplantes, o HRPA
dispõe de serviço de Terapia Renal Substitutiva com 22 máquinas de hemodiálise
e capacidade de atender a 132 pacientes em três turnos.