O vendedor Marcelo Oliveira, 35 anos,
cantou e tocou violão enquanto foi submetido a uma cirurgia com monitorização
funcional do cérebro, no hospital público estadual Ophir Loyola, em Belém. O
tumor estava localizado em uma área responsável pelo controle de funções como a
fala e movimentos voluntários do lado direito do corpo. O procedimento de
microcirurgia para tumor intracraniano garantiu a integridade dessas estruturas
neurais nobres, com o acompanhamento da atividade cerebral, em tempo real, pela
equipe médica.
Há um ano, Marcelo começou a sentir
formigamentos no lado direito do corpo, mas não deu importância. Teve dois
episódios de crises convulsivas, um dia desmaiou na empresa onde trabalha e um
amigo o levou para o Hospital Regional de Marabá. Exames foram realizados e uma
tomografia atestou uma lesão no cérebro. Ao ser transferido para o Ophir
Loyola, referência em neurocirurgia no Estado do Pará, a equipe definiu a
técnica cirúrgica com uso de tecnologia que emite e recebe estímulos cerebrais
do início ao término da manipulação do órgão.
Ao saber que precisaria estar acordado e
falando durante o procedimento, Marcelo, que também é músico na igreja onde
congrega, pediu para cantar e tocar o louvor "Deus de Promessas" do
cantor gospel Davi Sacer, além de outras canções. "Eu estava esquecendo
memórias recentes há algum tempo, mas sempre tive dificuldade de memorização.
De dez frases que ouço, só consigo lembrar de cinco. Não sei o motivo pelo qual
estou passando por essa experiência, mas sei que há muita coisa para se cumprir
na minha vida, por isso escolhi a canção", disse.
Cirurgia
Durante a avaliação com a
neuropsicológa, Ana Carla Anijar, constatou-se um déficit cognitivo que poderia
ser agravado durante uma cirurgia convencional, portanto, durante todo o
processo cirúrgico, realizou-se a estimulação cortical para a detecção das
áreas que poderiam ser manipuladas para não trazer sequelas.
O chefe de neurocirurgia, Reginaldo
Brito, explica que a cirurgia com paciente acordado já foi realizada no
hospital. Mas essa é a primeira em que o paciente cantou e tocou um instrumento
durante o procedimento. "A captação das funções motoras e de linguagem
foram realizadas mediante testes neuropsicológicos, que envolvem atividades de
movimento e de memória ", informou.
A princípio, Marcelo foi entubado,
submetido à anestesia geral e recebeu eletrodos conectados em todo o corpo para
o mapeamento das áreas eloquentes e da localização do tumor. "Após a
abertura do osso do crânio (craniotomia) com auxílio do aparelho
neuronavegador, a membrana (dura-máter) que cobre o cérebro, é anestesiada
localmente. O paciente foi acordado pela equipe anestésica por meio da
diminuição do nível de sedação para responder aos comandos", explicou o
neurocirurgião Airton Araújo.
A cirurgia durou em torno de 6h com
metodologia que reduz complicações cirúrgicas e o tempo de internação. "O
grande benefício é poder realizar o procedimento com máximo de retirada da
lesão cerebral sem causar déficits para o paciente. Realizamos uma
neurocirurgia oncológica funcional com precisão e segurança", enfatiza
Airton.