O ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, rebateu a informação de que houve aumento de 88% no
desmatamento em junho deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado. O
dado havia sido divulgado no início do mês pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), a partir da análise de informações do Sistema de Detecção do
Desmatamento em Tempo Real (Deter), que indicou perda de 920,4 quilômetros
quadrados na Amazônia Legal no período.
Em entrevista à
imprensa, no Palácio do Planalto, ao lado do presidente Jair Bolsonaro e dos
ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Augusto Heleno (Gabinete de
Segurança Institucional), Salles exibiu imagens de satélite para demonstrar que
pelo menos 31% do total do desmatamento apurado em junho ocorreram em anos
anteriores, principalmente em 2017 e 2018, mas só foram computados depois. Para
chegar a essa conclusão, segundo ele, foram analisadas imagens de 56% das áreas
desflorestadas em junho indicadas pelo Deter.
"Essa questão do
desmatamento, para nós, ela é apolítica. Não se trata de alocar os números de
desmatamento neste governo ou em outros, mas simplesmente dizer que isso não
aconteceu em junho de 2019 e que, portanto, o percentual do salto de 88% que
foi alardeado está equivocado. Isso deveria ter sido computado ao longo do
tempo no período em que foi acontecendo, e a fragilidade do sistema não
permitiu", afirmou.
O Deter é usado desde
2004 para detectar o desmatamento em tempo real em áreas maiores do que 3
hectares (30 mil metros quadrados). Utilizando imagens dos satélites WFI/CBERS
4 e AWiFS/IRS, que cobrem a Amazônia a cada cinco dias, o sistema emite alertas
de desmatamento que servem de apoio às ações de fiscalização do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Só em junho
deste ano, foram emitidos 3.250 alertas.
De acordo com o próprio
Inpe, o sistema não deve ser entendido como taxa mensal de desmatamento.
"A cobertura de nuvens, intensa na região amazônica, pode impedir que uma
área de devastação seja identificada no mês que ela ocorre, e só apareça quando
a visibilidade melhorar", diz o órgão. Além do lapso temporal, Ricardo
Salles argumentou que houve ainda sobreposição de imagens de desmatamento.
Novo modelo de
monitoramento
O ministro do Meio
Ambiente confirmou que há uma tendência de ampliação do desmatamento na região,
que vem sendo percebida desde 2012. Ele anunciou que um novo modelo de monitoramento
de desmatamento na Amazônia será adotado pelo governo. A ideia é contratar
novos serviços de imagens de satélites, com alta resolução, para complementar o
trabalho do Deter. Na prática, o governo deve manter a divulgação dos dados,
mas qualificando melhor a análise dos comparativos mensais, a partir de imagens
mais precisas.
"Nosso objetivo
não foi, em nenhum momento, esconder informação ou negar uma realidade,
realidade essa, do desmatamento na Amazônia, que vem aumentando desde 2012, por
diversas razões de pressão ilegal sobre a floresta, vem aumentando neste
período, e nós precisamos, a partir da real análise desses números, finalmente
tratar de maneira franca, madura, direta, aberta quais são as razões para o
desmatamento ilegal na Amazônia, de que forma dar alternativas de dinamismo
econômico para aqueles que vivem na região", afirmou. De acordo com o
ministro, ainda não há prazo para a implantação do novo sistema que, segundo
ele, ainda depende da contratação, por meio de licitação, do serviço de
detecção de imagens mais precisas.
O presidente Jair
Bolsonaro voltou a criticar o alarde que se criou em torno dos dados. Para ele,
foi uma tentativa de atingir o governo. "Você, levando em conta o
desmatado mês a mês, o desmatamento, no final, foi abaixo também, porque não
foi levada em consideração a área sobreposta. Não se levou em conta a área
regenerada. Os números, no meu entender, eles foram espancados com o objetivo
de atingir o nome do Brasil e o governo", afirmou. O presidente também
criticou a forma de divulgação dos dados e disse que vai apurar eventual
responsabilidade.
Bolsonaro prometeu
demitir dirigentes de cargos de confiança do governo que tenham atuado para
prejudicar a imagem do país. "Se quebrar a confiança, vai ser demitido
sumariamente. Não tem desculpa para nenhum ato, da parte de quem quer que seja.
A questão de perder a confiança, isso aí, no meu entender, é uma pena capital.
Temos muita responsabilidade em, realmente, identificar se houve ou não
má-fé", afirmou.