Agência Brasil
Em 2018, 6,2 milhões de pessoas tinham
como ocupação o serviço doméstico remunerado, que assume variadas formas, como
as atividades desempenhadas por diaristas, babás, jardineiros e cuidadores. Ao
todo, 92% (5,7 milhões) eram mulheres, das quais 3,9 milhões eram negras.
Naquele ano, constatou-se um aumento no
número de idosas que se tornaram parte da categoria. O índice saltou de 3% para
7%, quando confrontados os patamares de 1995 e 2018.
De acordo com o Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), a proporção de mulheres exercendo esse tipo de
trabalho sofreu queda de 1995 até o ano passado, o último servido como
referência para o estudo intitulado Os Desafios do Passado no Trabalho
Doméstico do Século XXI: reflexões para o caso brasileiro a partir dos dados da
Pnad Contínua. A pesquisa revela que, a despeito do recuo, jamais se modificou,
no decorrer do tempo, o fato de que as mulheres negras constituam a maior
parcela de trabalhadores domésticos.
No primeiro ano da série, a média de
mulheres ocupadas no trabalho doméstico era de 17,3%, índice que caiu, ao longo
dos 14 anos, para 14,6%. Entre as mulheres brancas, o indicador passou de 13,4%
para 10%, enquanto o das mulheres negras baixou de 22,5% para 18,6%.
Desproteção social e novas
possibilidades
De acordo com as pesquisadoras do Ipea,
ainda que cada vez mais mulheres do segmento tenham conquistado o
reconhecimento formal de direitos trabalhistas, o avanço observado "não
foi capaz de proporcionar, nem mesmo à metade das trabalhadoras, a segurança e
a proteção social garantidas àquelas que possuem carteira assinada".
Em 1995, somente duas (17,8%) em cada
dez domésticas estavam amparadas pelo registro em carteira. Embora tenha
melhorado em 2016, quando se elevou para 33,3%, o contingente encolheu dois
anos depois, atingindo 28,6%.
"Uma das maiores marcas do trabalho
doméstico no país está em sua informalidade e, mais ainda, na persistência
desta informalidade", dizem as pesquisadoras, no estudo.
As trabalhadoras domésticas têm outra
característica em comum: pertencem a famílias de baixa renda e têm baixa
escolaridade. Isso, segundo as pesquisadoras do Ipea, significa dizer também
que, à medida que tais mulheres têm acesso à escola, acabam deixando esse tipo
de ocupação e buscando vagas em outros ramos, como os serviços de
telemarketing, que, avaliam, são "menos estigmatizados, mas não
necessariamente menos precários".
"Assim, assiste-se a uma
recomposição da força de trabalho no emprego doméstico em termos etários: as
trabalhadoras jovens, de até 29 anos de idade, perdem espaço, passando de quase
metade para pouco mais de 13% da categoria, em 2018; e as trabalhadoras adultas
(entre 30 e 59 anos de idade) passam de 50%, em 1995, para quase 80% do total
ao final da série aqui acompanhada. As idosas (com 60 anos ou mais de idade)
também crescem ao longo dos anos, ainda que sigam representando uma parcela
mais restrita da categoria, como se poderia esperar", avaliam.
O estudo traz reflexões complementares,
como aquelas que relacionam a separação entre o espaço da casa e da profissão
e, por conseguinte, do descanso e do trabalho. "Se ainda persistem
práticas de exploração e violência contra essas mulheres, a separação entre o
espaço da casa, da vida privada, da família própria e o espaço do trabalho, da
vida e da família do empregador constitui-se importante movimento na direção de
uma maior profissionalização e, certamente, da constituição de espaços de
privacidade e intimidade para as trabalhadoras domésticas", escrevem as
pesquisadoras.
A pesquisa pode ser lida, na íntegra, no
site do Ipea.