Aos 91 anos, dona Célia Santos da Silva
tem algo a comemorar: ela venceu a covid-19. Morando há pouco mais de dois anos
no Abrigo São Vicente de Paulo, ela apresentou os primeiros sintomas do novo
coronavírus no dia 15 de abril, após ser cumprimentada por um familiar no
domingo de Páscoa, ainda que todas as medidas de proteção tivessem sido
adotadas pela direção do local.
“Suspendemos a realização de festas,
eventos, atividades em grupo, assim como visitas externas, mesmo de familiares
ou amigos, diante da situação de pandemia. Contudo, um familiar da dona Célia
pediu para trazer uma doação e aproveitou para cumprimentá-la, mesmo sabendo
das restrições que haviam sido implementadas”, relatou a diretora voluntária,
Sylvia Cruz.
Dona Célia teve o quadro de saúde
agravado após o dia 22 de abril, o que levou a direção do abrigo a entrar em
contato com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), da Prefeitura de Belém.
“Encaminharam uma equipe do Departamento de Vigilância em Saúde para realizar a
coleta do material e, após alguns dias, o resultado foi positivo para covid-19.
A Sesma também entrou com auxílio imediato para a coleta e rastreamento dos
funcionários da casa”, contou a diretora.
O tratamento da dona Célia foi todo no
abrigo, com a ajuda de familiares, amigos e funcionários. Ela precisou de
suporte de oxigênio e foi improvisada uma cápsula de proteção que, somados aos
cuidados médicos e medicamentos, ajudaram a salvar sua vida. Para preservar a
saúde das demais idosas, a direção do abrigo construiu, também com ajuda de
doações e colaborações de amigos, mais um banheiro para isolamento, atendendo
às determinações da Vigilância Sanitária.
“Foi um período de grande dificuldade,
mas, apesar de tudo que enfrentamos para manter o abrigo, seja com logística,
com contratação de pessoal ou com suprimentos, a missão que isso nos deixou é
de que juntos somos mais fortes. Deus é maior que tudo e todos nós precisamos
mudar e evoluir para aprender a servir”, acredita Sylvia.
Recuperada e sentindo-se vitoriosa nesta
batalha, dona Célia ainda fala com certa dificuldade, ms agradece todo o apoio
que recebeu enquanto esteve doente. “Agradeço muito a Deus e a Nossa Senhora
por ter me curado e pela ajuda de todos que estiveram lutando junto comigo”, retribui.
Reencontro - A diretora do Departamento
de Vigilância em Saúde (Devs) da Sesma, Leila Flores, teve conhecimento de quem
era a paciente somente após informar ao abrigo o resultado do exame de dona
Célia. A idosa era a mesma pessoa que, há anos, fez parte da sua infância.
“Assim que saiu o resultado, liguei para o abrigo, e pelo histórico soube que
era a ‘tia’ Célia, que fez parte da minha infância. Ela trabalhava como
fotógrafa e fez todas as minhas fotos dos sacramentos na igreja e fazia parte
da minha família”, contou.
A vida acabou separando as duas, que
perderam o contato, embora Leila tivesse notícias de que a dona Célia estava em
um abrigo, mas não sabia qual. “Coincidentemente ela voltou a fazer parte da
minha vida. Esse reencontro será algo que não tem preço. Não vejo a hora de
visitá-la, assim que passar a pandemia. Deus a colocou novamente no meu caminho
e o que eu puder fazer enquanto profissional e enquanto pessoa eu farei para
ajudá-la. Essa aproximação iniciou a minha relação com o abrigo e fico
extremamente feliz em saber que não apenas a tia Célia, mas as outras idosas
estão sendo muito bem zeladas e cuidadas”, disse, emocionada.