Alojamentos improvisados na mata, sem
acesso à água potável, banheiro ou alimentação adequada, além de jornadas de
trabalho desgastantes, sem qualquer proteção física ou contrato trabalhista.
Essas são algumas das irregularidades constatadas durante a Operação 1.200,
realizada entre os dias 22 de julho e 07 de agosto, que resgatou 80
trabalhadores em garimpos clandestinos no município de Ourilândia do Norte, no
sudeste paraense. Além de combate ao trabalho escravo, a ação da Polícia
Federal (PF), integrada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e Ministério
Público Federal (MPF), tinha como foco o combate a crimes ambientais e extração
ilegal de minérios no Estado.
Segundo a subprocuradora-geral do MPT, Edelamare Melo, que participou da operação, juntamente como procurador do trabalho Acir Hack, os trabalhadores, via de regra, não informaram os nomes dos proprietários dos garimpos, se referindo a eles, em alguns casos, pelo apelido que são conhecidos, o que dificulta a adoção de medidas judiciais contra os infratores. “Por se tratar de garimpos ilegais, tivemos dificuldade de identificar os empregadores, mas as investigações seguem junto à Delegacia da Polícia Federal de Redenção”, afirmou a procuradora.
“O êxodo de trabalhadores do Maranhão para o Pará, em busca de dinheiro rápido e, na concepção deles, mais fácil, está ocorrendo por conta do desemprego em larga escala de lavradores que não encontram trabalho na sua atividade, em razão dos latifúndios de soja e milho que estão fazendo desaparecer as pequenas propriedades rurais”, explicou a procuradora Edelamare Melo.
Insalubridade - As condições precárias e violadoras de direitos foram confirmadas pelos membros do MPT e da Polícia Federal. Os trabalhadores estavam alojados em barracões improvisados, cobertos com lona e palha, sem fechamento lateral, expostos a riscos nas áreas de vivência, e em situação de vulnerabilidade. As necessidades fisiológicas eram feitas no mato ou em um banheiro improvisado com lona, com um buraco no chão, sem cobertura, higiene e privacidade.
Não havia local adequado para o preparo e armazenamento dos alimentos, alguns deles, inclusive, estavam no chão. A água para consumo, preparo dos alimentos e higiene era proveniente de uma grota, uma espécie de cavidade que acumula a água das chuvas, sem qualquer potabilidade.
Foi constatada ainda a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), material de primeiros socorros que, conforme a legislação, devem ser fornecidos pelo empregador sem custo para o empregado. Os trabalhadores relataram ainda que não receberam treinamento para o exercício das atividades perigosas e de risco desempenhadas nos garimpos.
Mais irregularidades - Em um segundo
alvo da operação, onde cerca de 20 trabalhadores foram encontrados, todos
receberam o pagamento pelos dias trabalhados, já que no momento da ação o empregador estava
presente. O montante foi calculado com base no salário mínimo, já que os
empregados tinham poucos dias no garimpo. Eles eram remunerados por produção e com
pagamento em ouro, ou seja, se nada fosse produzido, nada recebiam. Nos demais
garimpos não houve pagamento, pois os empregadores não foram identificados ou
se evadiram no momento da fiscalização.