Neste sábado é celebrado
o Dia Mundial de Combate ao Câncer, data que chama atenção para os tipos de
tumores existentes, assim como sintomas, diagnósticos e tratamentos. Mas, além
desses dados, o esclarecimento sobre mitos e tabus são importantes para
amenizar o cenário de pessimismo que ronda a doença, já que o câncer,
independentemente do tipo, interfere, e muito, na qualidade física, emocional e
social do paciente. Ao diminuir dúvidas,
o paciente enfrenta a doença de forma mais consciente e o mesmo tempo contribui
para melhores resultados no tratamento, mostrando que é possível, sim, vencer a
doença.
Como explica o neurocirurgião,
especialista em tumor cerebral pela UNIFESP, Dr. Luiz Daniel Cetl, o tumor
cerebral, por si só, já é uma doença completamente invasiva e ocasiona mudanças
físicas, sociais e psicológicas na vida do portador. Sobre suas causas, o médico
esclarece que sua grande maioria é oriunda de metástase de um tumor proveniente
de outra área do corpo. “Por isso, os sintomas do tumor cerebral vão depender
muito de sua localização, mas, basicamente, são formados por dor de cabeça, tonturas,
alterações de equilíbrio, convulsões, déficit neurológico progressivo e
confusão mental”.
O médico esclarece ainda que
mesmo os tumores cerebrais benignos podem gerar, em um primeiro momento, medo
no paciente e seus familiares, uma vez que seus sintomas são bem similares aos
de um tumor cerebral maligno. “Esse cenário é muito mais comum do que
imaginamos, mas o paciente e as pessoas que vão apoiá-lo precisam entender que
hoje a medicina evoluiu muito, nos mostrando todos os dias casos de pessoas que
estão em tratamento, ou mesmo já o finalizaram, e conseguem realizar suas
atividades diárias normalmente, sendo exemplos de que receber o diagnóstico da
doença não é o fim do túnel”.
Dr. Luiz Cetl alerta que muitos pacientes recebem o diagnóstico tardio, em muitos casos, pela automedicação, que muitas vezes além de mascarar e dificultar o diagnóstico do tumor cerebral, pode comprometer o prognóstico. “Isso só reforça que, ao sentir sintomas recorrentes, o paciente deve procurar um clínico geral ou neurologista, que pode encaminhá-lo a um neurocirurgião especialista em tumor cerebral”.
Quanto ao tratamento, em
princípio, todos os tumores cerebrais podem ser tratados cirurgicamente, mesmo
os benignos, cuja remoção completa poderá levar à cura da doença. O
especialista conta que hoje, com o avanço da medicina, a neurocirurgia é
realizada inclusive com cálculos físicos e matemáticos, que diminuem as chances
de danos em outras áreas do cérebro.
“A cirurgia com o paciente
acordado, por exemplo, conhecida entre os especialistas como ‘awake
craniotomy’, permite que o cirurgião tenha a localização em tempo real de
regiões funcionais do cérebro, permitindo ainda a preservação destas regiões. É
considerada padrão ouro para a identificação das áreas eloquentes, que
correspondem às regiões motora, sensitiva e de linguagem”.
A técnica apresenta excelentes
resultados, sobretudo no que diz respeito à qualidade de vida, menor tempo de
internação, retorno às atividades cotidianas do paciente e o controle das
recidivas tumorais. Apesar de complexa, a ‘Awake Craniotomy’ é bastante
utilizada em todo mundo há mais de duas décadas para os casos de ressecção
(remoção) de tumores cerebrais. No Brasil, a cirurgia é realizada há quase 10
anos. “O procedimento permite o controle
da ressecção do tumor, com retirada maior sem comprometer uma determinada
função cerebral e menor déficit pós-operatório. Há incidência de maior controle
do tumor quanto maior for sua retirada e, ao mesmo tempo, são maiores as
chances de postergar as recidivas. O grande diferencial deste procedimento é
que o neurocirurgião consegue identificar as áreas eloquentes - motora,
sensitiva ou de linguagem - e atingidas pelo tumor”, explica o neurocirurgião.
A cirurgia é realizada com o
paciente submetido a uma anestesia geral que, após a abertura do osso do
crânio, é acordado, através da diminuição do nível da sedação. São colocados
eletrodos nas mãos, nas pernas ou nas áreas em que se quer testar os estímulos
cerebrais. No momento da estimulação da área correspondente, o cirurgião pede
para o paciente falar uma frase. Nesse momento, o circuito da área atingida
pode sofrer alteração e, assim, ser cessada a fala ou demonstrar distúrbio de
linguagem (parafasia). Após o mapeamento das áreas de interesse, o paciente é
novamente colocado em anestesia geral e a cirurgia é concluída com a remoção
total ou parcial do tumor.
Para finalizar, o neurocirurgião
Luiz Cetl reforça que, quanto mais cedo o paciente receber o diagnóstico,
maiores serão as chances de resultados efetivos do tratamento proposto. “Além
disso, o portador de tumor cerebral, assim como portadores de qualquer tipo de
câncer, deve receber acompanhamento especializado e apoio de amigos e
familiares”.
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