Neste sábado, 15, comemora-se o dia da
Adesão do Pará à independência do Brasil. Segundo documentos históricos e
pesquisas, a data está diretamente ligada à Cabanagem, movimento popular que
tomou Belém em janeiro de 1835. O grupo que mobilizou e liderou a Revolução
Cabana se sentia marginalizado pela nova administração implantada na província,
fazendo forte oposição aos representantes do governo imperial. E é nesse
contexto que o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Cultura
(Secult), celebra a data com uma programação especial: em Belém, às 10h, ocorre
a entrega da segunda fase de revitalização do Memorial da Cabanagem; e no
município de Barcarena, a partir das 18h, será aberta a exposição "Vozes
da Cabanagem".
"Essa é uma data muito importante
para a história do Pará, porque é o dia em que a Província do Grão-Pará aceitou
fazer parte do império do Brasil. Popularmente, a gente conhece como o dia da
Adesão à independência, mas o que a maioria das pessoas não sabe é que essa
data também é extremamente importante para a Cabanagem. As pessoas geralmente
não costumam ligar as datas históricas, mas os fatos que se sucedem após 15 de
agosto vão culminar na Cabanagem, em 1835", explica o historiador e
diretor do Arquivo Público do Pará, Leonardo Torii.
Desde que passou a ser responsabilidade
do Governo do Estado e Secult, no início 2019, o Memorial da Cabanagem já
recebeu limpeza, paisagismo, encaminhamento de pedestres e um novo projeto
luminotécnico. Agora, a Secretaria de Estado de Cultura entrega novas
estruturas como o pavilhão de apoio, composto de banheiros, cabine de segurança
e copa. Na ocasião, também será lançada a exposição "Memória Cabana"
e a videoinstalação "Revolução Cabana". Haverá ainda uma intervenção
artística sobre a as criptas do Memorial, com os nomes de 1.953 cabanos que
participaram do levante popular.
"É muito importante trazer esses
espaços para sua reinserção no plano urbano da cidade e também do circuito
cultural aqui da capital. O memorial foi um espaço extremamente prejudicado
pelas diversas intervenções no seu entorno, não houve qualquer interesse das
gestões anteriores em revitalizar esse pequeno enclave da cidade. Ele tem uma
simbologia que é muito forte para nossa história, para nossa cultura, e essa
exposição não vem apenas reatar a relação com o Memorial, vem fortalecer também
as nossas relações identitárias com a nossa história. Esse é o grande legado
que essa obra do Niemeyer deixou aqui na Amazônia", destaca Armando
Sobral, curador da exposição Memória Cabana e diretor do Sistema Integrado de
Museus e Memoriais (SIMM).
"Esse segundo momento de nosso
Preamar Cabano em 2020 representa o encontro de duas datas históricas
importantes e de efeito causal na cronologia das lutas populares vividas em
nosso território. Cada ação de valorização da memória e do nosso patrimônio
arquitetônico e histórico tem um efeito pedagógico no tecido social. A beleza
da arte em concreto, encapsulada pelo anel viário do Entrocamento, se revela no
imaginário simbólico do povo paraense em capítulos e narrativas muito
relevantes para a formação de nossa identidade. Os cabanos lutavam por um
modelo político mais justo, mais democrático e mais representativo, se
ressentido da desatenção do poder central. Esta luta permanece até hoje. É
nosso dever valorizar a coragem desses mais de 30 mil homens e mulheres mortos
pela brutalidade de um regime autoritário. Uma veia revolucionária que tem suas
raizes fincadas na história de resistência do povo mais pobre da Província do
Grão Pará, durante o regime imperial.
Em Barcarena, o salão paroquial da
Igreja São Francisco Xavier, na vila São Francisco, onde estão os restos
mortais do Cônego Batista Campos, um dos principais líderes da Cabanagem,
também exibirá a videoinstalação "Revolução Cabana", em duas sessões:
uma às 18h e outra às 19h. O local vai receber ainda a exposição "Vozes da
Cabanagem", aberta à visitação do público até o próximo sábado, 22. A
mostra, que já esteve no Memorial da Cabanagem, receberá um complemento com
documentos históricos, como cópias da ata de Adesão do Pará e documentos da
região de Barcarena do tempo da Cabanagem, que falam sobre a trajetória do
Cônego Batista Campos.
"A programação da Secult, em
especial na vila São Francisco, tem por objetivo aproximar as pessoas da
história da região, não só de Barcarena, mas do Pará, Belém e suas adjacências.
O que a gente percebe é que a maioria das pessoas não conhece a trajetória do
seu povo e de sua região, que é extremamente rica e importante. Então, é por
meio da exposição e da exibição que pretendemos aproximar a comunidade dos
fatos históricos e refletir sobre o que foi o dia 15 de agosto, qual seu
impacto, ligação com a Cabanagem e de que forma isso vai definir muito a
história de Barcarena", destaca Leonardo Torii.