 |
Cantor Jeff Moraes |
Da música à língua, as manifestações
africanas têm forte influência na cultura brasileira. O samba, a capoeira, a feijoada e palavras
comumente usadas no nosso dia a dia, como moleque, cafuné e bagunça, e até o
carimbó, ritmo paraense reconhecido como patrimônio cultural imaterial do
Brasil em 2014, tem traços africanos. Você consegue imaginar o nosso país sem
esses elementos?
Em reconhecimento às contribuições da
população negra para a formação da identidade brasileira, em novembro, a Casa
da Cultura de Canaã dos Carajás apresenta uma programação exclusiva com
artistas afrodescendentes. São oficinas, palestras, contação de histórias e
espetáculos musicais que, em sua maioria, versam sobre a temática negra. Os
eventos são gratuitos e online. Alguns deles, inclusive, dão direito à
certificação ao participante.
Nesta quinta-feira (05), às 20h, será
realizado o primeiro espetáculo musical da programação. O cantor Jeff Moraes se
apresentará no show “Amazônia Sonora”, que reúne uma série de influências
musicais do artista e traz suas próprias composições. As inscrições no evento
são feitas mediante envio de mensagem de texto ou ligação para os números (94)
99160-8186 ou (94) 99220-3451.
Diversidade
Segundo o coordenador executivo da Casa
da Cultura, Fernando Guerra, a agenda é alusiva às comemorações pelo Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro. “A
instituição tem compromisso com a democratização e o fomento do acesso à
cultura, sendo assim, um espaço de trocas, onde todos possam falar e ser
ouvidos. Isso não poderia ser diferente em novembro. No Dia da Consciência
Negra, devemos refletir sobre o reconhecimento da população negra na nossa
sociedade”, afirma Guerra.
Para a rapper Shaira Mana Josy,
integrante do Slam Dandaras do Norte, coletivo de mulheres que defende o
empoderamento feminino a partir da poesia marginal, participar da programação é
especial porque possibilita uma experiência pouco vivida pela maioria dos
artistas paraenses. “Para mim esse momento representa a possibilidade de levar
os nossos trabalhos para outros municípios do Pará, que é tão grande e, na
maioria das vezes, a gente não tem essa oportunidade de fazer essas trocas de
conhecimento e cultura. É muito comum a gente levar para fora do Pará, para
outros estados, mas aqui dentro não”, comentou a artista.
A representatividade negra na agenda da
Casa da Cultura não é exclusiva do mês alusivo à consciência negra. Ao longo do
ano, artistas afrodescendentes estiveram à frente de shows, palestras, oficinas
e contação de história promovidas pelo espaço. Em alguns meses, eles
representaram até 50% das atrações.
De acordo com o professor de Literatura
Amazônica e diretor-adjunto do Instituto de Linguística, Letras e Artes da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Gilson Penalva, a
preocupação da instituição dá ênfase à cultura brasileira como sendo uma
cultura diversa.
“Falar do legado dos negros para a
cultura brasileira é retomar a História do Brasil para mostrar a grande
importância que eles tiveram na formação do País, mas que, de certa forma, foi
inferiorizada. Por isso esta é uma iniciativa importantíssima para se contrapor
às formas de discriminação contra o negro. Assim, a Casa da Cultura sai na
frente e estimula o debate sobre a valorização da diversidade cultural”, afirma
o pesquisador.
Novas plataformas
Desde o início da pandemia, quando suas
atividades presenciais foram suspensas, a Casa da Cultura de Canaã dos Carajás
passou a realizar a programação de forma virtual. De lá para cá, mais de 300
eventos foram promovidos e registradas mais de 40 mil visualizações.
A plataforma que liga a Casa da Cultura
ao seu público é o WhatsApp, aplicativo de mensagem mais utilizado pelos
brasileiros. Toda a programação é disponibilizada por meio dele. Basta que os
interessados enviem mensagem ou liguem para um desses números: (94) 99160-8186
e (94) 99220-3451. A agenda completa das atrações está disponível no site
casadaculturacanaa.com.br.
A estratégia utilizada pela instituição
para manter os eventos durante o período de isolamento social é bem avaliada
pela classe artística. “A internet ajuda a derrubar as barreiras de comunicação
e, durante a pandemia, teve um papel importantíssimo para nós fazedores de
cultura. Ela foi imprescindível para não deixar a nossa arte sem voz”, comenta
Edson Catendê, do Afoxé Ita Lemi Sinavuru, uma das atrações da Casa da Cultura
em novembro.
Casa da Cultura de Canaã
O espaço cultural, criado e mantido pela
Vale e que agora integra o Instituto Cultural Vale, desempenha papel de guarda
e registro do acervo histórico do município, e de difusor cultural na região.
Nesse sentido, promove exposições, exibições de filmes, clubes de leitura,
contações de história, espetáculos de música, dança, circo e teatro, além de
manter uma escola de música e dança, onde crianças e jovens têm a oportunidade de
participar, de forma gratuita, de aulas de ballet clássico, canto, violão,
flauta doce, musicalização infantil e percussão tradicional paraense.