Carla Maiara Gomes, 25 anos,
acabou de dar à luz o pequeno Kelvin. Cumprindo pena por tráfico de drogas no
Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua, Região Metropolitana de
Belém, ela viu a vida começar a mudar quando descobriu que estava grávida. A
detenta foi transferida para a Unidade Materno-Infantil (UMI) da
Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), espaço de
acolhimento criado em março de 2013 para dar às mulheres presas condições de
terem o acompanhamento pré-natal durante a gestação e poder ficar ao lado da
criança até ela fazer um ano de idade.
O serviço oferecido pela Susipe é
uma das maneiras de assegurar à mulher o direito de exercer a maternidade. “Já
tenho outros filhos, mas este é o primeiro que nasce dentro do presídio. No
começo tive muito medo, não imaginava como ia fazer para cuidar do meu filho.
Até o dia em que conheci a UMI. Fiquei mais tranquila, porque vi que é um
espaço bom para o bebê ficar, pelo menos por um tempo, até ele ir embora para
casa”, diz a detenta.
A unidade funciona próximo ao
presídio feminino e tem capacidade para atender 14 presas grávidas que estejam
no período de gestação a partir de seis meses e detentas que deram à luz os
bebês ainda durante a prisão. As internas recebem atendimento biopsicossocial
da equipe interdisciplinar composta por médicos (clínica geral e pediatra),
enfermeiros, assistente social, psicóloga, professora de artesanato e terapeuta
ocupacional. A UMI dispõe de ambulância 24 horas para atendimentos de
emergência no Hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará, referência estadual
à saúde da mulher e da criança.
“Na UMI não dividimos os leitos
com celas. É um espaço aberto, com camas e berços, onde as mães podem circular
com os bebês. As detentas grávidas recebem todo o apoio de que necessitam.
Temos enfermeira 24 horas. Os bebês, assim que nascem, tomam todas as vacinas
necessárias e fazem todos os testes que os recém-nascidos precisam fazer. Até
os seis meses, a criança fica recebendo somente alimentação do leite materno.
Após esse período, a pediatra começa a introduzir os alimentos sólidos, que são
fornecidos por uma empresa terceirizada. A nutricionista da unidade ensina cada
mãe a preparar a alimentação do bebê”, destaca a diretora do CRF, Carmem
Botelho.
Familiarização
As detentas são acompanhadas
desde o pré-natal. Elas fazem todos os exames comuns a qualquer mulher grávida,
para monitorar qualquer tipo de risco ao bebê. “Elas têm uma caderneta, com
todo o acompanhamento da gestação, até o bebê nascer”, explica a diretora do
CRF. Quando completam um ano, as crianças são entregues para as famílias das
detentas ou para os pais.
“Todo mês é feito o mesário do
bebê, e quando ele completa um ano fazemos o aniversário e convidamos os avós e
o pai. Quando vai se aproximando o desligamento da criança da mãe, pedimos que
a pessoa que vai ficar responsável passe a frequentar mais o espaço, para fazer
a familiarização e também para aprender as necessidades do bebê”, diz Carmem
Botelho.
Todos os cuidados necessários com
os bebês são de responsabilidade das próprias mães. Elas dão comida e banho e
trocam as roupas e fraldas dos filhos. Antes das crianças nascerem, elas ocupam
o tempo fazendo cursos de artesanato e corte-costura. “Aqui a gente aprende a
cuidar dos nossos filhos. Lá fora tem família para ajudar, mas aqui a gente
precisa aprender a se virar. Aprendemos a fazer massagens no bebê, quando eles
tiverem cólica, por exemplo, e também a amamentar”, conta a interna Carla
Gomes.
Atualmente, a UMI tem duas
lactantes e outras quatro detentas grávidas. Desde 2013, cerca de 120 mulheres
já passaram pela unidade materno-infantil, que, em 2016, alcançou o recorde de
37 mulheres grávidas atendidas. Todas tiveram acompanhamento para cuidar dos
bebês ainda dentro do espaço. Sete nasceram na unidade.
Em 2017, o espaço se prepara
receber o primeiro casal de gêmeos. A detenta Raimunda dos Santos Magno, 41
anos, está à espera de dois bebês, no sexto mês de gravidez. “Já tive dois
filhos, mas este é o primeiro caso de gêmeos na minha família, e estou muito
feliz. Por causa da minha idade, a gravidez é considerada de risco, mas aqui
recebo todo o acompanhamento necessário para ter uma gestação tranquila”, frisa
a interna.
Para a assistente social da
unidade, Cynthia Vasconcelos, a maternidade é uma oportunidade para as detentas
mudarem de vida. “Muitas dessas mulheres que vão para a UMI já tiveram filhos e
cometeram crimes por diversos motivos, mas quando elas engravidam dentro do
cárcere, começam a repensar a vida e tentam dar um novo significado para o que
é ser mãe. Elas tentam ser um exemplo melhor para os filhos que estão vindo ao
mundo e não cometer o mesmo erro. Fazemos todo um trabalho social com elas,
para que melhorem e deem um futuro melhor para essas crianças”, avalia.