Já pensou que aquele matinho, uma
flor de seu jardim ou mesmo sementes de árvores madeireiras podem ser usadas
como comida? Esse olhar diferenciado sobre a potencialidade alimentar da
biodiversidade amazônica será tema de encontro nos dias 8 e 9 de abril, na
estação Gasômetro, em Belém. Amazônia é Panc - A Amazônia descobre a Amazônia -
é o nome do evento que vai colocar em evidência as plantas alimentícias não
convencionais, as chamadas de Pancs, e a Embrapa Amazônia Oriental é uma das
convidadas junto a outros pesquisadores, chefs e mateiros da região em um
momento de congraçamento entre a ciência, o saber tradicional e a gastronomia.
Os organizadores definem o evento
como uma espécie de oficina e reality show, na qual os participantes vão
debater, conhecer, mas também degustar iguarias gastronômicas elaboradas com
esses alimentos, para muitos, inusitados.
Cipó Itauá, típica de alguns países da África usada como alimento. Foto: Arquivo Biyouz |
O botânico Sebastiao Ribeiro
Xavier Junior, que responde pelo Laboratório de Botânica da Embrapa, em Belém,
integrará o grupo de 18 pessoas, entre cientistas, mateiros tradicionais e especialistas
em gastronomia, que serão os animadores dessa saborosa experiência. Ele estará
ao lado, entre outros, do renomado chef Alex Atala e do professor Waldely
Kinupp (AM), doutor em fitotecnia e horticultura, autor do livro Plantas
Alimentícias Não Convencionais (PANCs) do Brasil, aclamado como a enciclopédia
dos pancs brasileiros.
Acostumado a lidar com a
identificação de plantas amazônicas em seus mais de dez anos na Embrapa,
Sebastião é atualmente responsável pela curadoria das coleções vegetais e atua
na base de dados do Herbário IAN, da empresa de pesquisa, um dos maiores da
Amazônia com acervo de quase 200 mil exsicatas (amostras de planta prensadas
herborizadas).
Para o botânico, a Amazônia é
ainda algo que precisa ser desbravado, pois, embora exista um enorme esforço em
pesquisa para compreender a região, ainda pouco que se conhece sobre a
biodiversidade desse bioma que abriga a maior floresta tropical do mundo e
todos os superlativos que a acompanham. Ele acredita que, além de ampliar seu conhecimento
sobre o tema das Pancs, sua principal contribuição no evento será sobre chamar
atenção à importância da devida identificação desses vegetais que tenham
potencial ou que já são usados como alimento pelas populações tradicionais e
sua inserção na gastronomia urbana. “A correta identificação, descobrindo a
quais famílias e gêneros botânicos essas plantas pertencem, podem revelar
possíveis riscos à saúde, em caso de excesso de ingestão por exemplo, mas
também se esse alimento está sendo negligenciado, sem o conhecimento de
potenciais características medicinais ou cosméticas”, comenta.
Mato ou alimento?
O despertar para o botânico
Sebastião Júnior desse olhar diferenciado sobre vegetais não usais como
alimento ocorreu com a visita da chef africana Melanito, natural da República
de Camarões que buscava um ingrediente que faltava para servir prato típico de
seu país, no restaurante que possui no Brasil. De acordo com o relato da chef,
o Fúmbua é um prato que leva pasta de amendoim torrado com azeite de dendê,
camarão moído e fúmbua (folhagem típica da
África), mandioca e galinha frita. Essa folha típica, descobriu a chef,
tinha um parente próximo no Brasil e veio até o herbário da Embrapa em busca de
repostas.
Com a ajuda da equipe do
laboratório de botânica da Embrapa, a chef Melanito descobriu que a “prima” da
Fúmbua é conhecida na Amazônia como Itauá. Embora espécies diferentes, ambas
pertencem ao gênero Gnetum, da família das Gnetaceae, pouco estudada na região,
conforme contou Sebastitão e pode ser encontrada às margens do rio Guamá em
Belém e região metropolitana da capital paraense.
Essa curiosa experiência o levou
a diversificar o olhar sobre as plantas amazônicas em sua área de atuação, até
então bem mais utilizada na identificação de espécies florestais e já rendeu
até artigo defendido por ele, junto com Aline Amorim, Gabriel Costa e Helena
Joseane Sousa, no Congresso Nacional de Botânica, no ano passado, no estado do
Espirito Santo.
Potencial amazônico para a
descoberta de novos produtos
Desenvolver produtos e agregar
valor à biodiversidade amazônica é uma das linhas de pesquisa desenvolvida pela
Embrapa Amazônia Oriental. Uma dessas pesquisas levou a elaboração de um azeite
a partir da polpa dos frutos de tucumanzeiro-do-pará (Astrocaryum vulgare
Mart.), o fruto do tucumã.
O azeite de tucumã foi
desenvolvido no Laboratório de Agroindústria da instituição com indicação para
uso na culinária e segundo a pesquisa tem propriedades funcionais semelhantes
ao azeite de dendê, mas com o diferencial de ser mais suave ao paladar,
deixando menos sabor residual aos alimentos aos quais é incorporado.
Responsável pelo desenvolvimento
do produto, a pesquisadora Laura Figueiredo Abreu, informou que outra
característica do azeite de tucumã é ser uma rica fonte de vitamina A e de
antioxidantes naturais. Para a pesquisadora, além de suplemento vitamínico
alimentar, o produto pode ser utilizado como corante natural em pratos
culinários e em produtos alimentícios industrializados. Ainda em comparação ao
azeite de dendê, afirma Laura, os resultados da pesquisa indicaram que o azeite
de tucumã apresenta maiores percentuais de ácidos graxos insaturados (cerca de
60%), que são benéficos à saúde, e maior teor de carotenóides.
Amazônia é panc - Intitulado “A
Amazônia descobre a Amazônia”, o evento é promovido pelo Instituto Atá,
Instituto Paulo Martins e Centro de Empreendedorismo da Amazônia.
Datas: Sábado 8 e Domingo 9 de
abril de 2016
Local: Estação Gasômetro
Horários: 9-12hs e 14-17hs
Informações e compra de ingressos:
www.amazoniapanc.com
Colaboração: Izabel Drulla
Brandão (MTb 1084/PR)
Kélem Cabral (MTb 1981/PA)
Embrapa Amazônia Oriental