Crescente em todo o mundo, a
obesidade já é considerada um dos males da vida moderna. Para se ter uma ideia,
somente no Brasil, mais de 52% da população enfrenta o sobrepeso e, dentre
eles, 18% são obesos (Pesquisa Vigitel – Ministério da Sáude 2014). Não é a toa
que a cirurgia bariátrica tem se tornado cada vez mais popular: dados da SBCBM
(Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) indicam que o país
ocupa a segunda colocação no ranking mundial desse procedimento, perdendo
apenas para os Estados Unidos.
É indiscutível que o procedimento
se tornou um grande aliado na luta contra a obesidade: em geral, a cirurgia é
eficaz no tratamento de quadros graves, quando a saúde do indivíduo é
comprometida pelas morbidades que acompanham excesso de peso. Porém, ao
contrário do que muitos podem imaginar, o procedimento não é uma fórmula mágica
para o emagrecimento: apesar da sua popularidade, para ser bem sucedida, a
intervenção requer uma mudança profunda nos hábitos do paciente. Os desafios
enfrentados no pós-operatório é o que irão garantir a eficácia do procedimento,
portanto, é fundamental que aqueles que desejam se submeter à cirurgia, saibam
como encarar estas transformações na busca por mais qualidade de vida.
Volume e dieta líquida
Os desafios em relação à dieta já
se iniciam no pré-operatório: em geral, o paciente é estimulado a ter uma nova
postura em relação ao alimento já nos meses que antecedem a intervenção. Desde
o princípio, a redução do volume de alimentos é considerável – de acordo com a
nutricionista Joanna Carollo “não apenas para preparar o paciente para a etapa
seguinte, onde, dependendo da técnica utilizada, seu volume estomacal será
reduzido drasticamente; mas também para reeduca-lo em relação à ingesta
alimentar, estimulando bons hábitos como a mastigação prolongada e priorização
de alimentos altamente nutritivos”.
Outro ponto famigerado é a
alimentação pós-operatória, em especial à dieta líquida, adotada em seguida do
procedimento. Apesar de ser uma das etapas mais críticas do tratamento, a
nutricionista explica que é relativamente curta, dependendo da evolução do
paciente “Ao contrário do que muitos podem imaginar durante essa fase o
indivíduo não passará fome, até porque seu volume estomacal será relativamente
menor. Ainda que temida por muitos, essa etapa é breve, durando poucos dias de acordo
com o paciente. O fundamental nesse momento é garantir a hidratação e a
recuperação do aparelho gastrointestinal recém-operado”.
Intolerância alimentar e dumping
Uma vez atravessado o período
cirúrgico e adaptação da dieta puramente líquida, o indivíduo poderá introduzir
gradativamente alimentos mais consistentes na alimentação, num primeiro momento
como sopas e papas liquidificadas, até evoluir a ponto de aceitar alimentos
macios e de cocção prolongada. Porém, um
dos maiores entraves enfrentados por aqueles que passam pela cirurgia
bariátrica é a intolerância a certos alimentos, principalmente carnes.
De acordo com a profissional da
Nova Nutrii, isso acontece, pois as alterações fisiológicas provocadas pela
cirurgia podem tornar a digestão de determinados alimentos mais dificultosa
“Como algumas dessas intervenções submetem o paciente a mudanças radicais na
estrutura gastrointestinal, certos alimentos podem causar maior desconforto,
provocando diarreia, náuseas e, ate mesmo, vômitos.” Em alguns pacientes, as
complicações podem ser ainda mais acentuadas, gerando sintomas concomitantes
como náuseas, dor abdominal, palpitação, tontura, suor em excesso e distensão
abdominal. Este quadro, conhecido como síndrome de dumping, é comumente
provocado pela ingestão de alimentos ricos em açúcar, como doces em geral.
Para Joanna, saber lidar com
essas situações é fundamental, não somente para garantir mais conforto ao
paciente, mas principalmente em virtude da questão nutricional. “A grande
preocupação por trás desse problema é o risco para carências nutricionais,
especialmente se o indivíduo passar a evitar alimentos nutritivos, como a
proteína, por exemplo, em função da intolerância”.
Queda de cabelo e unhas
quebradiças
Neste âmbito, um dos sintomas
comuns no pós-cirúrgico que, inclusive, preocupa muitos pacientes é a queda de
cabelo, unhas quebradiças e pele ressecada. Apesar desses sintomas serem, em
alguns casos, consequências do stress psicológico causado pelo tratamento, é
preciso ficar alerta para a intensidade deste problema: quando persistentes,
eles podem indicar alguma carência nutricional. Isso porque, devido à natureza
do procedimento, os pacientes da bariátrica terão a capacidade de absorção de
nutrientes reduzida.
Justamente por isso, eles devem
fazer suplementação alimentar por pelo menos seis meses após o procedimento “É
comum que muitos deles apresentem carência proteica, de vitaminas e sais
minerais, especialmente vitaminas do complexo B, ferro e cálcio. Como esses (e
outros) nutrientes são essenciais tanto para recuperação quanto para manutenção
da saúde, a suplementação é parte indispensável do tratamento num primeiro
momento e pode se estender a longo prazo, de acordo com a necessidade”. –
explica Joana.
A nutricionista esclarece que a
suplementação tem papéis específicos na vida de quem passa por essa cirurgia:
“Antes de tudo, a suplementação proteica visa evitar a perda de massa magra, o
que pode comprometer a saúde muscular do indivíduo. Sintomas como o
ressecamento da pele e a queda de cabelo podem estar, inclusive, ligados a essa
deficiência. Já o aporte de outros
nutrientes específicos, como vitaminas e sais minerais, auxilia no reforço da
imunidade, o que ajudará na recuperação da cirurgia.” Porém, Joana alerta que a
suplementação para este tipo de paciente é muito individualizada e, até mesmo,
diferenciada: tanto em relação aos nutrientes, que devem ser balanceados para
este perfil, quanto em relação à absorção do produto, uma vez que esses
indivíduos têm maior dificuldade em assimilar certos alimentos”.
Como conviver com as mudanças
Devido sua complexidade, a
cirurgia requer um acompanhamento médico prolongado, para garantir a boa
recuperação do paciente e sua adaptação à nova rotina. Porém, para que o
procedimento configure, de fato, uma mudança de vida, é preciso que o paciente
esteja comprometido com o tratamento e adote os novos hábitos permanentemente,
mesmo após a alta.
Uma das principais orientações
que devem acompanhá-lo para o resto da vida é sua relação com o alimento: num
primeiro momento, adequar-se ao novo volume estomacal pode ser incômodo, porém
a longo prazo, o indivíduo deve continuar controlando a quantidade ingerida,
pois o estômago é um órgão elástico, que pode, mesmo reduzido, aumentar de
volume. Para tal, é aconselhável mudar o comportamento diante do alimento:
“Fazer as refeições em recipientes menores, adequados para o tamanho da porção.
Comer vagarosamente, apreciando o sabor e aroma dos alimentos. Pausar os
talheres a cada garfada e mastigar lentamente são medidas que ajudam a reduzir
a ansiedade diante do alimento e também a controlar a quantidade ingerida”.
Outro ponto importante é em
relação à qualidade dos alimentos ingeridos: pacientes que passaram pela
cirurgia bariátrica devem iniciar suas refeições pelos alimentos mais
nutritivos. Por exemplo: se o indivíduo precisa de uma oferta proteica elevada,
deve começar a refeição pela proteína. “Este ponto é extremamente importante,
pois, ao contrário do muitos podem imaginar, não é pelo fato de comerem menos que
não devem ter atenção a valor nutricional da refeição. Pelo contrário: como a
ingestão é menor e, algumas vezes, dificultosa, a alimentação deve priorizar
alimentos nutritivos, justamente para evitar carências nutricionais.”
Novo estilo de vida
E como essas mudanças afetam toda
a vida do paciente, é fundamental que se mantenha hábitos saudáveis: o
exercício físico deve, dentro do possível, fazer parte da rotina. Fugir do
sedentarismo é essencial tanto para a forma física quanto para controlar fatores
de saúde relevantes como o colesterol, a pressão arterial e o condicionamento
cardíaco. Com esses cuidados, o indivíduo evita o temido reganho de peso e
problemas nutricionais mais graves, que podem surgir caso os cuidados não sejam
mantidos após a alta.
Para evitar o incômodo dumping é
aconselhável restringir o consumo de alimentos extremamente ricos em açúcar,
até mesmo para auxiliar na manutenção do peso saudável. Quando o desconforto e
a intolerância alimentar são gerados por alimentos nutritivos, que não podem
ser excluídos da dieta, é fundamental contar com o apoio do nutricionista:
nesses casos, a suplementação será um aliado indispensável.
No mais, é preciso acompanhamento
médico periódico e um novo olhar sob o estilo de vida: “O paciente que passou
pela bariátrica deve ter em mente que a cirurgia é uma alternativa para
enfrentar a obesidade, porém, os resultados dependem diretamente do esforço e
comprometimento do paciente após a intervenção. Quando o tratamento é seguido
corretamente, todo esforço se traduzirá em muito mais qualidade e, até mesmo,
expectativa de vida para o paciente.” – finaliza Joanna.
Fonte: Nova Nutrii
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