Elias da Penha Cunha, de 64 anos,
e Inês, de 65 anos, estão juntos há bastante tempo. E, ao longo dos 44 anos de
união, nunca deixaram de comemorar o aniversário de casamento. Nem mesmo quando
passaram por dificuldades, como é o caso de Elias, que esteve internado na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional do Baixo Amazonas
(HRBA), em Santarém (PA), por conta de um problema no coração.
Ele sofreu um infarto no dia
16/10 e precisou de cuidados intensivos. O problema de saúde aconteceu
justamente na semana do aniversário de casamento, comemorado em 20/10. Elias
ainda luta contra um câncer de pele melanoma desde o início do ano passado.
O feirante comentou com a filha,
Ilinês Cunha, sobre a importância da data e a tristeza que seria não poder
comemorá-la. Depois de ouvir o desabafo do pai, Ilinês falou com a equipe de
saúde, que autorizou a realização da festa e o liberou para participar. A
partir daí, a surpresa para Inês foi pensada.
Ela foi recepcionada com um buquê
e, juntos, renovaram os votos de união, cantaram os parabéns e cortaram o bolo.
Bem humorado, ele se declarou: “só tenho que agradecer por ela ter me suportado
por todo esse tempo”, disse, rindo.
Inês ficou encantada com a
surpresa, apesar do nervosismo. “É muito difícil esse tempo em que eu não o
tenho ao meu lado. Mas eu estou tendo muita força, a família também tem me dado
apoio. Estou conseguindo levar ajuda para ele, porque eu preciso ser forte por
ele. Eu posso estar triste, mas eu tenho que parecer bem para ele”, conta.
Ao longo do tratamento de câncer,
ela teve que assumir as responsabilidades dele na feira do município. Mas, em
nenhum momento, ela reclamou. Tudo que espera é que o marido se recupere. “Essa
é a primeira vez que comemoramos a data dentro de um hospital, mas estou feliz
porque ele está bem melhor”.
A comemoração emocionou a todos
os presentes, que viram que o amor entre os dois permanece vivo, apesar dos
anos e das dificuldades. Elias conta que conheceu a esposa quando ainda eram
adolescentes. “Ela tinha uns 13 anos de idade. Eu a vida de longe, achava
linda. Aí eu peguei e disse para mim mesmo: ‘essa mulher ainda vai ser minha
esposa um dia’. Depois, tive que ir para colônia com meus pais. Naquela época,
eu não poderia fazer nada. Quem mandava era os pais”, lembra.
No entanto, a sorte o sorriu no
futuro. “Depois, viemos morar na cidade e, por coincidência, ficamos em uma
casa que era em frente à dela. A partir daí começou a troca de olhares e
sorrisos, mas eu era tímido até demais. Até que um dia eu cheguei e perguntei:
‘você me ama?’ Daí ela veio e me beijou”, revela, rindo.
Humanização
Se devidamente orientada, a
presença cada vez maior de familiares em unidades de terapia intensiva (UTIs)
de hospitais pode ter impacto significativo sobre a melhora de estado de saúde
de pacientes. É o que defende um projeto de pesquisa nacional, realizado com
aval do Ministério da Saúde, que está alcançando, até o final deste ano,
aproximadamente 40 estabelecimentos de saúde de todo o País.
O “Projeto UTI Visitas” é
coordenado nacionalmente pelo Hospital Moinhos de Vento, por meio do Programa
de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde
(Proadi-SUS), e atinge alguns dos hospitais mais representativos das cinco
regiões brasileiras. A meta é implantar e avaliar o modelo que flexibiliza a
visita familiar em UTIs de hospitais.
Na região Amazônica, a iniciativa
foi implantada no Hospital Regional de Santarém – unidade pública de saúde,
pertencente ao Governo do Pará e administrado, desde 2008, pela Pró-Saúde
Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar. Nesse período, dois
familiares próximos de cada paciente têm direito de permanecer na UTI por até
12 horas consecutivas por dia.